‘A Europa está entregue aos especuladores’, diz Mário Soares – Ex-presidente português
Ex-presidente português diz que Europa está entregue aos especuladores Débora Berlinck / O Globo Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/ a-europa-esta-entregue-aos- especuladores-diz-mario- soares-3379293#ixzz3mKSYdQx5 © 1996 - 2011. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
RIO – Mário Soares respirou política e socialismo a maior parte de seus 86 anos. Referência na esquerda portuguesa e europeia, ele abre o verbo diante do terremoto econômico e político que ameaça seu país e o continente, ao defender a democracia do assédio dos mercados. De sua boca saem palavras como “vergonha”, “roubalheira”, “criminosos” quando se refere aos especuladores e às agências de classificação de risco e à forma como vêm se impondo sobre os governantes europeus. Ex-premier, ex-presidente e europeísta, Soares acaba de lançar em Portugal a autobiografia “Um político assume-se”. Na véspera da segunda greve geral no país este ano, há dez dias, ele encabeçou, com outros políticos e intelectuais, o manifesto “Mudança de rumo”, atacando o neoliberalismo e incentivando os portugueses a saírem às ruas para protestar contra as medidas de austeridade: “Sou a favor de uma sociedade em que haja o mercado livre, mas com regras éticas e disciplina”, diz ele, por telefone, da fundação que leva seu nome, em Lisboa.
O senhor declarou que se a Europa não mudar, haverá uma revolução. O que é preciso mudar diante de tão grave cenário econômico?
MÁRIO SOARES: É mudar o modelo econômico, acabar com essas aventuras do neoliberalismo, com essas roubalheiras, com a economia virtual, com as agências de risco, que estão a descontrolar completamente a vida não só da Europa, mas do mundo inteiro. É preciso uma mudança de paradigma, uma ruptura. O que é extraordinário é que os dirigentes políticos atuais, aqueles que mandam ou que julgam que mandam, como é o caso da senhora Merkel e do senhor Sarkozy, não mandam. Quem efetivamente manda hoje são os mercados, não são os Estados. Os mercados e as agências de classificação de risco começam a dizer coisas, e as finanças mudam completamente às custas deles. Os Estados só obedecem. É absurdo que sejam os mercados a mandar. Sou a favor de uma sociedade em que haja o mercado livre, mas com regras éticas e disciplina.
Houve então uma distorção dos princípios da União Europeia?
SOARES: Houve uma total distorção e não só na União Europeia como em toda parte. Mesmo na ONU. Quando aparece uma série de organizações, como G-7, G-8 e o G qualquer coisa, são criações para acabar e destruir com a ONU e que paralisam os fenômenos. Veja, por exemplo, os Objetivos do Milênio, que foram assinados por cerca de cem chefes de Estado. Eram as melhores metas e não se fez nada até agora. Está tudo assim, descontrolado. E não é só na Europa e por causa do euro. Tudo está em causa. Li um artigo de uma autoridade do Reino Unido já cogitando o futuro depois do euro. Por que a libra esterlina não acaba? Porque há emissões sobre emissões, assim como se faz com o dólar nos EUA. Se o Banco Central Europeu fabricasse moeda, esses problemas desapareceriam. Mas tudo está entregue aos especuladores, que só se interessam em ganhar dinheiro e fazer fortuna.
O senhor estava à frente de Portugal quando o país aderiu à União Europeia…
SOARES: Aderimos no mesmo dia que a Espanha, após oito anos de negociações difíceis. Foi um acontecimento imenso para a Península Ibérica e para a América Latina. Depois da nossa Revolução dos Cravos e da redemocratização da Espanha, após a morte de Franco, houve uma série de rupturas e mudanças em diversos países. Mas veio a queda da ideologia comunista e os americanos se acharam donos do mundo e lançaram o neoliberalismo, do qual estão sendo vítimas, como nós, europeus. Queremos agora outra revolução, uma ruptura com o neoliberalismo. Começaremos vida nova, com novo projeto de desenvolvimento.
Qual a responsabilidade dos socialistas nessa crise?
SOARES: As duas famílias ideológicas que fundaram a UE foram, de um lado, os socialistas ou social-democratas, que são a mesma coisa exceto em Portugal. E de outro, as democracias cristãs. Foram essas famílias que fizeram esse projeto europeu, que era um farol e um exemplo no mundo inteiro. Foi o projeto mais importante que se fez no mundo, um projeto de paz, de justiça social e bem-estar para as populações, respeito pelos direitos humanos e pelas democracias. Isso nos deu um grande desenvolvimento. O mundo olhava para a União Europeia como um projeto extraordinário. Não é por acaso que povos que se debateram em duas guerras cruentas no século XX tenham vivenciado mais de 50 anos em paz. É isso tudo que está em causa hoje com essas mudanças econômicas e com esses especuladores, que são verdadeiros criminosos.
Mas em que os socialistas erraram?
SOARES: Houve um socialista inglês chamado Tony Blair, que nunca foi socialista, que enganou as pessoas, mas não a mim. Ele tentou colonizar o Partido Socialista em função do que chamou de Terceira Via, que era uma ligação ao neoliberalismo. E muitos socialistas europeus prevaricaram com seus partidos, que entraram em crise e em decadência. E, por outro lado, houve quem colonizasse as democracias cristãs como partidos populares, que são outra coisa.
Como o senhor vê os governos que são liderados por tecnocratas, como Grécia e Itália?
SOARES: Da pior maneira, isso ofende a democracia, onde tudo deve ser decidido pelo voto. Não faz o menor sentido.
O que o senhor acha do governo do primeiro-ministro português, o social-democrata Pedro Passos Coelho?
SOARES: Ele é um homem sério, decente e um patriota. Mas é um neoliberal. Não é da minha família política. Não é com austeridade que se resolvem problemas como os que temos em Portugal. Temos que ter uma certa austeridade, mas não que arrase o crescimento econômico e faça subir o desemprego como está ocorrendo. Senão, daqui a um ano, teremos imposto muitos sacrifícios aos portugueses e estaremos ainda pior.
Na semana passada, o senhor liderou um manifesto criticando as medidas de austeridade em Portugal…
SOARES: Não fui contra. Num momento em que Portugal estava numa situação muito difícil e sem liquidez, fui partidário de pedir dinheiro à Europa. Mas não é justo que senhores que vêm da troika (comitê formado por FMI, do BCE e Comissão Europeia) possam governar Portugal porque temos pouco dinheiro ou estamos em dificuldade.
O senhor cogitou criar um novo movimento paralelo ao Partido Socialista, como foi especulado?
SOARES: Não, de jeito nenhum, é pura especulação. Fui um dos fundadores do PS, fui socialista durante toda a minha vida política ativa e nunca deixarei de ser. Nunca pensei em criar um movimento próprio.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ mundo/a-europa-esta-entregue- aos-especuladores-diz-mario- soares-3379293#ixzz3mKSnIF2R
© 1996 – 2011. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
O senhor declarou que se a Europa não mudar, haverá uma revolução. O que é preciso mudar diante de tão grave cenário econômico?
MÁRIO SOARES: É mudar o modelo econômico, acabar com essas aventuras do neoliberalismo, com essas roubalheiras, com a economia virtual, com as agências de risco, que estão a descontrolar completamente a vida não só da Europa, mas do mundo inteiro. É preciso uma mudança de paradigma, uma ruptura. O que é extraordinário é que os dirigentes políticos atuais, aqueles que mandam ou que julgam que mandam, como é o caso da senhora Merkel e do senhor Sarkozy, não mandam. Quem efetivamente manda hoje são os mercados, não são os Estados. Os mercados e as agências de classificação de risco começam a dizer coisas, e as finanças mudam completamente às custas deles. Os Estados só obedecem. É absurdo que sejam os mercados a mandar. Sou a favor de uma sociedade em que haja o mercado livre, mas com regras éticas e disciplina.
Houve então uma distorção dos princípios da União Europeia?
SOARES: Houve uma total distorção e não só na União Europeia como em toda parte. Mesmo na ONU. Quando aparece uma série de organizações, como G-7, G-8 e o G qualquer coisa, são criações para acabar e destruir com a ONU e que paralisam os fenômenos. Veja, por exemplo, os Objetivos do Milênio, que foram assinados por cerca de cem chefes de Estado. Eram as melhores metas e não se fez nada até agora. Está tudo assim, descontrolado. E não é só na Europa e por causa do euro. Tudo está em causa. Li um artigo de uma autoridade do Reino Unido já cogitando o futuro depois do euro. Por que a libra esterlina não acaba? Porque há emissões sobre emissões, assim como se faz com o dólar nos EUA. Se o Banco Central Europeu fabricasse moeda, esses problemas desapareceriam. Mas tudo está entregue aos especuladores, que só se interessam em ganhar dinheiro e fazer fortuna.
O senhor estava à frente de Portugal quando o país aderiu à União Europeia…
SOARES: Aderimos no mesmo dia que a Espanha, após oito anos de negociações difíceis. Foi um acontecimento imenso para a Península Ibérica e para a América Latina. Depois da nossa Revolução dos Cravos e da redemocratização da Espanha, após a morte de Franco, houve uma série de rupturas e mudanças em diversos países. Mas veio a queda da ideologia comunista e os americanos se acharam donos do mundo e lançaram o neoliberalismo, do qual estão sendo vítimas, como nós, europeus. Queremos agora outra revolução, uma ruptura com o neoliberalismo. Começaremos vida nova, com novo projeto de desenvolvimento.
Qual a responsabilidade dos socialistas nessa crise?
SOARES: As duas famílias ideológicas que fundaram a UE foram, de um lado, os socialistas ou social-democratas, que são a mesma coisa exceto em Portugal. E de outro, as democracias cristãs. Foram essas famílias que fizeram esse projeto europeu, que era um farol e um exemplo no mundo inteiro. Foi o projeto mais importante que se fez no mundo, um projeto de paz, de justiça social e bem-estar para as populações, respeito pelos direitos humanos e pelas democracias. Isso nos deu um grande desenvolvimento. O mundo olhava para a União Europeia como um projeto extraordinário. Não é por acaso que povos que se debateram em duas guerras cruentas no século XX tenham vivenciado mais de 50 anos em paz. É isso tudo que está em causa hoje com essas mudanças econômicas e com esses especuladores, que são verdadeiros criminosos.
Mas em que os socialistas erraram?
SOARES: Houve um socialista inglês chamado Tony Blair, que nunca foi socialista, que enganou as pessoas, mas não a mim. Ele tentou colonizar o Partido Socialista em função do que chamou de Terceira Via, que era uma ligação ao neoliberalismo. E muitos socialistas europeus prevaricaram com seus partidos, que entraram em crise e em decadência. E, por outro lado, houve quem colonizasse as democracias cristãs como partidos populares, que são outra coisa.
Como o senhor vê os governos que são liderados por tecnocratas, como Grécia e Itália?
SOARES: Da pior maneira, isso ofende a democracia, onde tudo deve ser decidido pelo voto. Não faz o menor sentido.
O que o senhor acha do governo do primeiro-ministro português, o social-democrata Pedro Passos Coelho?
SOARES: Ele é um homem sério, decente e um patriota. Mas é um neoliberal. Não é da minha família política. Não é com austeridade que se resolvem problemas como os que temos em Portugal. Temos que ter uma certa austeridade, mas não que arrase o crescimento econômico e faça subir o desemprego como está ocorrendo. Senão, daqui a um ano, teremos imposto muitos sacrifícios aos portugueses e estaremos ainda pior.
Na semana passada, o senhor liderou um manifesto criticando as medidas de austeridade em Portugal…
SOARES: Não fui contra. Num momento em que Portugal estava numa situação muito difícil e sem liquidez, fui partidário de pedir dinheiro à Europa. Mas não é justo que senhores que vêm da troika (comitê formado por FMI, do BCE e Comissão Europeia) possam governar Portugal porque temos pouco dinheiro ou estamos em dificuldade.
O senhor cogitou criar um novo movimento paralelo ao Partido Socialista, como foi especulado?
SOARES: Não, de jeito nenhum, é pura especulação. Fui um dos fundadores do PS, fui socialista durante toda a minha vida política ativa e nunca deixarei de ser. Nunca pensei em criar um movimento próprio.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/
© 1996 – 2011. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
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Fim dos Tempos.Net
Novo video do mestre Olavo de Carvalho sobre Ocupe Wallstreet e o aquecimento global
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=4EJhjFTYOP8&feature=related
Olavo de Carvalho cita a Dra. Ana Beatriz Babosa Silva, e na sequência uma entrevista com ela
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=LeOynbLHkzE&feature=related
Vou dar uma olhada.
ResponderExcluirObrigado Brasil
Noticias interessantes...
ResponderExcluirA Coreia do Norte pode em breve ser capaz de atacar EUA com armas doomsday final que desativa (quase) todos os aparelhos eletrônicos
http://www.pakalertpress.com/2011/12/07/north-korea-may-soon-be-able-to-strike-usa-with-ultimate-doomsday-weapon-that-deactivates-nearly-all-electronics/
http://www.washingtontimes.com/news/2011/dec/5/north-korea-making-missile-able-to-hit-us/
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Camps FEMA Através EUA sendo ativado: Infowars Exclusivo
ResponderExcluirhttp://www.pakalertpress.com/2011/12/07/fema-camps-across-us-being-activated-infowars-exclusive/