14 de junho de 2012

ESPECIAL CRISE!: Grécia: como tudo começou e para onde deve convergir? .

Ingresso do país na zona do euro marcou início da atual crise. 

14 de junho de 2012 - O tsunami que segue varrendo a economia da Grécia ganhou força com a crise de 2008. À época, as economias mundiais ficaram ainda mais fragilizadas e as finanças da nação helênica comprometidas. Contudo, foi a entrada do país na zona do euro, em 2001, que marcou o início da derrocada do berço da democracia.

Segundo o economista da Tendências Consultoria Integrada, Silvio Neto, o alto nível de endividamento da Grécia, atualmente na casa dos 160% de seu Produto Interno Bruto (PIB) recebeu um forte incentivo do alto volume de recursos ao qual o país teve acesso quando passou a integrar o bloco econômico europeu, em janeiro de 2001.

"Esse é um processo que decorre da entrada do país na zona do euro, quando ela se deparou com menores custos de financiamento. A população da Grécia, se vendo diante de mais recursos, passou a gastar mais, elevando seu nível de endividamento. Por um curto período [de 2001 a 2008, pré-crise] as pessoas passaram a gastar mais do que podiam", explica.

Já para o professor de Comércio Exterior da Faculdade Santa Marcelina, Reinaldo Batista, a situação econômica na Grécia atingiu tal magnitude, sobretudo por conta da falta de regulação dos gastos públicos entre os países do bloco, agravado pela falta de transparência dos governantes do país do Mediterrâneo que, no período que antecedeu sua entrada no bloco, omitiram dados importantes sobre seu caixa.

"A Grécia conseguiu espaço na zona do euro por interesse políticos dos outros países, mas o problema é que o governo grego nunca foi transparente com seus números, deixando a ilusão de que tudo estava bem. Mas aí, quando eles perceberam o tamanho do problema já era tarde demais. A contabilidade foi mascarada", alfineta.

Qual o impacto da bolha imobiliária dos EUA? E as eleições na Grécia?

Entretanto, o economista da consultoria Tendências, Silvio Neto, aponta que já em 2008, antes da explosão da bolha imobiliária nos Estados Unidos, o país já dava sinais claros de desaceleração, com 110% da soma de todas as suas economias comprometidas com dívidas.

Porém, foi a crise imobiliária nos Estados Unidos que apontou a necessidade de a Grécia desenvolver medidas para enfrentar o conturbado cenário econômico, como os impopulares pacotes de austeridade anunciados pelo governo nos últimos meses.

"Um país não quebra, mas precisa fazer ajustes profundos, e na Grécia eles estão lidando com um remédio amargo, que não gostam, mas como se tem uma economia globalizada não há como fugir destes ajustes", mostra Batista, da Faculdade Santa Marcelina.

Já o professor de Relações Internacionais do Ibmec, Diogo Costa, vai mais além e indica também a postura de alguns políticos gregos em culpar terceiros pela crise, levando ao impasse político visto no país nos dias de hoje.

"A maior parte dos eleitores enxerga que o problema não são eles [os governantes da nação], são os estrangeiros. Foram eleitos uma série de bodes expiatórios, o que não resolve o problema, e os partidos políticos conseguem convencer a opinião pública de sua opinião, e assim será mais difícil a formação de um novo governo, o que é uma situação preocupante porque levanta a dúvida de como será composto este novo governo", indica.

Em relação aos candidatos, o acadêmico demonstra preocupação com o avanço da esquerda radical, que deve sair mais fortalecida do pleito deste domingo (17).

"Em minha opinião, o partido de centro-esquerda deve perder mais, enquanto a esquerda radical deve ganhar força, e essa é uma situação preocupante, porque o tom do discurso é de nacionalismo, contra a zona do euro. A situação não se acalma enquanto não tiver emprego e dinheiro no bolso", diz.

O sentimento é compartilhado pelo economista da Tendências Consultoria, Silvio Neto, que destaca o risco de uma saída turbulenta do país caso os novos políticos eleitos se recusem a buscar acordos para conter a crise.

De acordo com ele, esta decisão deve ser ruim para todos os países da região, aumentando o risco de contágio do bloco. Entretanto, os grandes prejudicados devem Portugal e, sobretudo, a Espanha, que já enfrenta uma crise em seu sistema bancário, a mesma opinião do professor Reinaldo Batista, da Faculdade Santa Marcelina.

"Hoje, a Grécia é apenas o ponto de partida, a ponta do iceberg, porque o restante do iceberg é a Espanha. Se a crise bancária se agravar pode levar a algo sem precedentes. Somadas, a economia de Portugal, Irlanda e Grécia não teria a capacidade de abalar a economia do bloco como uma crise na Espanha", indica.

Sair ou ficar na zona do euro?

Porém, os especialistas consultados são unânimes em afirmar que, apesar do cenário turbulento e da pouca esperança de uma solução amigável para os incidentes, a hipótese mais trabalhada é da permanência do país na zona do euro, o que pode arrastar a crise para um período muito mais longo que o esperado, contudo deve beneficiar politicamente todo o bloco.

"Do ponto de vista político é importante que a Grécia permaneça na zona do euro. O coração econômico do bloco é formado por poucos países, mas a influência política é maior com muitas nações, e a gestão política da Alemanha e da França é importante para manter o bloco unido", encerra Batista.

Entretanto, os acadêmicos destacam: permanecendo ou saindo do bloco, os próximos meses (ou anos) devem ser marcados por profundos cortes nas finanças públicas e nos benefícios concedidos à população, estes últimos utilizados há décadas pelos governantes para conquistar o eleitorado.

“Serão necessárias muitas medidas de austeridade, reformas sérias, será um período muito dolorido, porque quanto uma família ou uma empresa precisa cortar seus gastos em 10%, por exemplo, eles conseguem agora o governo não. O grande problema na Grécia é a estrutura de bem-estar social, que estimula o ócio e diminui as contribuições [ao Estado]”, aponta o professor Diogo Costa.

O cenário já foi traçado e as cartas estão na mesa. Resta agora saber quem leva as eleições e principalmente qual o caminho será seguido pelo novo governo, ou torcer para que os deuses do Olimpo apontem a melhor solução para tirar o berço da filosofia deste dilema.

(Rosangela Sousa - www.ultimoinstante.com.br)

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