30 de junho de 2012

Pessimismo domina reunião de Annan para discutir paz na Síria


Enviado especial da ONU Kofi Annan adverte líderes reunidos em Genebra que fracasso em implementar seu plano pode desencadear crise internacional

BBC Brasil |
O enviado especial da ONU Kofi Annan advertiu, em reunião neste sábado em Genebra, que um fracasso em implementar seu plano de paz para a Síria pode desencadear uma crise internacional.
AP
Kofi Annan, enviado especial para a Síria (C), conversa com secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon (E), e chanceler russo, Sergei Lavrov
 
Mas até o início desta tarde, a Rússia, um dos aliados mais próximos do regime sírio, mantinha sua resistência a qualquer proposta que resulte na exclusão do presidente sírio, Bashar al-Assad, de um eventual governo de transição no conflagrado país árabe.
"A História nos julgará com dureza se nos provarmos incapazes de seguir o caminho correto hoje (sábado)", disse Annan aos chanceleres reunidos em Genebra para discutir a crise síria, alertando que os participantes seriam responsabilizados caso continuem ocorrendo mortes no país e pela ameaça de que o conflito se espalhe regionalmente.
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Nos quase 16 meses de levante contra o regime de Assad, acredita-se que o saldo de mortes seja de 15,8 mil. Um plano de paz da ONU, que previa um cessar-fogo e um recuo de rebeldes e de tropas do governo, foi aceito por Assad, mas nunca cumprido.
E, em meio à iniciativa diplomática, a violência continua no país. Entre quinta e sexta-feira, 190 morreram em todo o país, com os locais mais atingidos sendo Douma, um subúrbio de Damasco, e a cidade de Homs.
Neste sábado, ativistas e testemunhas afirmaram que muitos residentes fugiam em massa de Douma, temendo a ofensiva estatal. Um ativista disse à agência Associated Press que a situação em Douma é "catastrófica", depois de o subúrbio, um bastião da oposição, ter sido retomado pelas tropas de Assad.
Diferenças
Antes do início da reunião, a Rússia disse que havia "uma chance muito boa" de chegar-se a um consenso, mas um representante americano afirmou que persistiam muitas "dificuldades e diferenças".
O correspondente da BBC em Moscou Steven Rosenberg explica que, sem o apoio da Rússia, nenhum esforço diplomático será bem-sucedido na Síria. Isso porque Moscou tem uma forte influência sobre Damasco ao fornecer-lhe armas e apoio político. Apesar da retórica russa, as conversas recentes entre Rússia e EUA sugerem que Ocidente e Oriente ainda não chegaram a um acordo em um ponto-chave: o destino de Assad.
Ao mesmo tempo, o chanceler britânico, William Hague, disse que eventuais decisões da reunião devem receber o endosso de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, que permita a implementação prática do plano de paz, informa a agência Reuters.
Hague também ressaltou que Assad e seus aliados não devem ser autorizados a participar de um eventual governo de transição na Síria, algo que está sendo discutido em Genebra. Mas a Rússia, que tem poder de veto no Conselho de Segurança, é hostil a qualquer solução que exclua Assad.
Reuters
Residentes enterram corpos de pessoas que dizem ter sido mortas por forças leais a Bashar em Habeet, perto de Idlib (28/06)

Enquanto isso, o presidente sírio disse que não aceitará nenhuma solução imposta a seu país pelo exterior. Em entrevista à televisão iraniana, Assad disse que a situação na Síria é um "assunto interno" que não diz respeito "aos países estrangeiros", agregando que não mudará suas políticas por conta de pressões externas.
Violência crescente
O encontro deste sábado reúne potências ocidentais, a Rússia, a Turquia e países árabes, como o Catar. A reunião foi convocada por Annan, diante de sinais de que a violência vem se intensificando na Síria. O chanceler russo, Serguei Lavrov, e a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, encontraram-se em São Petersburgo na sexta-feira na tentativa de chegar a um consenso para lidar com a situação.
Mas, em seguida, um representante do Departamento de Estado dos EUA informou que as divergências persistiam. Annan pede apoio internacional para a formação de um governo interino que inclua membros da oposição síria e autoridades do governo Assad, mas se excuindo "aqueles cuja presença tiraria a credibilidade da transição e ameaçaria o processo de estabilização e reconciliação", segundo seu porta-voz. Para diplomatas, isso foi uma referência implícita ao presidente sírio.

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