Enviado especial da ONU Kofi Annan adverte líderes reunidos em Genebra que fracasso em implementar seu plano pode desencadear crise internacional
O enviado especial da ONU Kofi Annan advertiu, em reunião neste sábado em Genebra, que um fracasso em implementar seu plano de paz para a Síria pode desencadear uma crise internacional.
Mas até o início desta tarde, a Rússia, um dos aliados mais próximos do regime sírio, mantinha sua resistência a qualquer proposta que resulte na exclusão do presidente sírio, Bashar al-Assad, de um eventual governo de transição no conflagrado país árabe.
"A História nos julgará com dureza se nos provarmos incapazes de seguir o caminho correto hoje (sábado)", disse Annan aos chanceleres reunidos em Genebra para discutir a crise síria, alertando que os participantes seriam responsabilizados caso continuem ocorrendo mortes no país e pela ameaça de que o conflito se espalhe regionalmente.
Nos quase 16 meses de levante contra o regime de Assad, acredita-se que o saldo de mortes seja de 15,8 mil. Um plano de paz da ONU, que previa um cessar-fogo e um recuo de rebeldes e de tropas do governo, foi aceito por Assad, mas nunca cumprido.
E, em meio à iniciativa diplomática, a violência continua no país. Entre quinta e sexta-feira, 190 morreram em todo o país, com os locais mais atingidos sendo Douma, um subúrbio de Damasco, e a cidade de Homs.
Neste sábado, ativistas e testemunhas afirmaram que muitos residentes fugiam em massa de Douma, temendo a ofensiva estatal. Um ativista disse à agência Associated Press que a situação em Douma é "catastrófica", depois de o subúrbio, um bastião da oposição, ter sido retomado pelas tropas de Assad.
Diferenças
Antes do início da reunião, a Rússia disse que havia "uma chance muito boa" de chegar-se a um consenso, mas um representante americano afirmou que persistiam muitas "dificuldades e diferenças".
O correspondente da BBC em Moscou Steven Rosenberg explica que, sem o apoio da Rússia, nenhum esforço diplomático será bem-sucedido na Síria. Isso porque Moscou tem uma forte influência sobre Damasco ao fornecer-lhe armas e apoio político. Apesar da retórica russa, as conversas recentes entre Rússia e EUA sugerem que Ocidente e Oriente ainda não chegaram a um acordo em um ponto-chave: o destino de Assad.
Ao mesmo tempo, o chanceler britânico, William Hague, disse que eventuais decisões da reunião devem receber o endosso de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, que permita a implementação prática do plano de paz, informa a agência Reuters.
Hague também ressaltou que Assad e seus aliados não devem ser autorizados a participar de um eventual governo de transição na Síria, algo que está sendo discutido em Genebra. Mas a Rússia, que tem poder de veto no Conselho de Segurança, é hostil a qualquer solução que exclua Assad.
Enquanto isso, o presidente sírio disse que não aceitará nenhuma solução imposta a seu país pelo exterior. Em entrevista à televisão iraniana, Assad disse que a situação na Síria é um "assunto interno" que não diz respeito "aos países estrangeiros", agregando que não mudará suas políticas por conta de pressões externas.
Violência crescente
O encontro deste sábado reúne potências ocidentais, a Rússia, a Turquia e países árabes, como o Catar. A reunião foi convocada por Annan, diante de sinais de que a violência vem se intensificando na Síria. O chanceler russo, Serguei Lavrov, e a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, encontraram-se em São Petersburgo na sexta-feira na tentativa de chegar a um consenso para lidar com a situação.
Mas, em seguida, um representante do Departamento de Estado dos EUA informou que as divergências persistiam. Annan pede apoio internacional para a formação de um governo interino que inclua membros da oposição síria e autoridades do governo Assad, mas se excuindo "aqueles cuja presença tiraria a credibilidade da transição e ameaçaria o processo de estabilização e reconciliação", segundo seu porta-voz. Para diplomatas, isso foi uma referência implícita ao presidente sírio.
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