Islâmicos do Egito aprovam projeto de nova Constituição às pressas
Votação rápida de esboço tenta pôr fim à crise desencadeada após presidente islamita emitir decreto ampliando seus poderes na semana passada
Islâmicos aprovaram às pressas na madrugada desta sexta-feira o
projeto da nova Constituição do Egito sem a participação dos membros
liberais e cristãos da Assembleia Constituinte, tentando evitar um
processo judicial pelo qual a Suprema Corte Constitucional do país
poderia dissolver o órgão no domingo.
Mas a votação rápida do esboço da nova Carta, que após referendo substituirá o documento revogado após a queda de Hosni Mubarak
em fevereiro de 2011, pode inflamar ainda mais o conflito entre a
oposição e o presidente Mohammed Morsi. Adversários do líder islamita
boicotam a Assembleia de 100 membros, afirmando que os islâmicos tomaram
o órgão para impor a sua visão do futuro.
Os membros da comissão, dominada pelos islamitas, votaram
os 234 artigos que lhes foram submetidos no transcurso de uma sessão de
mais de 16 horas que começou no início da tarde de quinta-feira e durou
toda a noite. A nova Carta mantém a referência aos princípios da
sharia
(lei islâmica), que já figurava na lei fundamental anterior, sob a presidência de Mubarak.
Segundo especialistas legais, esse aspecto islâmico
poderia dar aos clérigos muçulmanos primazia sobre a legislação e
poderia causar restrições à liberdade de expressão, aos direitos das
mulheres e a outras liberdades.
O texto, adotado por unanimidade, segundo
Hossam el-Gheriyani, o presidente da comissão, deve ser enviado no
sábado para ratificação de Morsi, que deve convocar um referendo
nacional no prazo entre 15 e 30 dias.
A adoção rápida do projeto, que estava
estancado havia meses, chega em plena crise política desatada após o
presidente ter-se concedido superpoderes
, estimulando uma semana de protestos e ameaçando descarrilar os
primeiros sinais de recuperação da economia após dois anos de
turbulência. Os protestos nacionais deixaram dois mortos e centenas de
feridos.
Em entrevista à revista Time, Morsi disse na quinta-feira
que a maioria apoiava seu decreto. Mas acrescentou: "Se tivéssemos uma
Constituição, tudo o que disse ou fiz na semana passada acabaria."
Preparando o cenário para mais confrontos, a Irmandade
Muçulmana e seus aliados islâmicos pediram protestos pró-Morsi no sábado
na Praça Tahrir, onde uma manifestação de opositores do presidente
entrou no sétimo dia na quinta-feira.
A Irmandade Muçulmana, o grupo islâmico que apoiou Morsi
para presidente nas eleições de junho, espera acabar com a crise
substituindo o decreto controverso com a Constituição inteiramente nova.
A legitimidade da Assembleia foi posta em dúvida por uma
série de processos judiciais exigindo a sua dissolução. Sua posição
também foi atingida pela retirada de membros, incluindo representantes
de igrejas e liberais.
A Irmandade argumenta que a aprovação da Constituição em
um referendo enterra todos os argumentos sobre a legalidade da
Assembleia e sobre o texto que ela escreveu nos últimos seis
meses. "Essa é uma saída. Após o referendo, todos os decretos
constitucionais anteriores, incluindo o de março de 2011 e o atual que
criou toda a confusão política, serão derrubados automaticamente depois
de 15 dias", disse o porta-voz da Irmandade Muçulmana, Mahmoud Ghozlan.
O Egito está sem uma legislatura eleita desde que a
câmara baixa, também dominada por islâmicos, foi dissolvida em junho.
Novas eleições parlamentares não podem ocorrer até que a Constituição
seja aprovada.
http://ultimosegundo.ig.com.br *Com AP, AFP e Reuters
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Qualquer comentário que for ofensivo e de baixo calão, não será bem vindo neste espaço do blog.
O Blog se reserva no direito de filtrar ou excluir comentários ofensivos aos demais participantes.
Os comentários são livres, portanto não expressam necessariamente a opinião do blog.
Usem-no com sapiência, respeito com os demais e fiquem a vontade.
Admin- UND