Bom dia leitores!
Hoje a penúltima parte do especial sobre a URSS.
Amanhã a parte final sobre a Rússia na era Putin.
As mudanças e outras nações no mundo após o fim da URSS
As mudanças ocorridas na União Soviética a partir de 1985 não afetaram apenas o país de Gorbatchev ou os países da Europa Oriental. Elas a tingiram também a maioria dos outros países socialistas.
Na África, Angola e Moçambique, independentes de Portugal desde 1975, haviam feito a opção pelo socialismo. Mas as dificuldades para alcançar um grau mínimo de desenvolvimento eram enormes. Em Angola, os problemas vinham sobretudo da guerra civil travada contra um movimento de oposição armada, a Unita (União para a Independência Total de Angola). Em Moçambique, eram dois os obstáculos principais: um, a guerra de guerrilhas desenvolvida contra o governo e contra a própria população pela Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), ligada a antigos proprietários portugueses e a interesses da África do Sul; outro, não menos cruel, a seca (e a fome dela resultante).
Em Angola, as mudanças começaram no início de 1991, quando o Congresso angolano alterou a Constituição do país, acabando com o sistema de partido único, vigente nos 16 anos anteriores. Foram também elaboradas leis prevendo a volta da economia de mercado e do pluripartidarismo.
Em junho desse ano foram concluídas negociações entre o governo angolano e a direção da Unita, com a assinatura de um acordo de paz cujo cumprimento seria supervisionado pela ONU. Mas a guerra civil continuou, interrompida às vezes por períodos de trégua.
Em Moçambique uma reforma constitucional realizada em 1990 determinou as normas gerais para o funcionamento da economia de mercado e estabeleceu o fim do sistema de partido único, a liberdade de imprensa e a realização de eleições gerais. Em 1992 o Acordo de Roma pôs fim à guerra civil.
Outro país de grande importância é o Vietnã. Após a guerra com os Estados Unidos, à qual se seguiu uma guerra civil que terminou em 1975, o Vietnã do Norte uniu-se ao Vietnã do Sul, constituindo um só país, com capital em Hanói. Os princípios do socialismo eram rigidamente seguidos. Em 1991 o governo vietnamita iniciou um processo de reforma da Constituição, visando instaurar em parte a economia de mercado e acabar com o regime de partido único.
Também no Camboja o regime comunista, em vigor desde 1975, começou a ser abandonado em 1991. Foi assinado um acordo de paz entre o governo, líderes do Khmer Vermelho (grupo guerrilheiro comunista de oposição) e o príncipe Norodon Sihanouk (antigo presidente do país). Por esse acordo, ficou estabelecido um cessar- fogo na guerra civil e uma reorganização do país, com a participação dos três grupos políticos envolvidos.
Os países em que as reformas desencadeadas pela perestroika demoraram mais tempo para se iniciar foram Cuba e a Coréia do Norte.
Em Cuba, o fim da ajuda econômica da União Soviética causou uma terrível crise econômica, apesar de vários países – mas não os Estados Unidos – terem levantado o embargo mantido por mais de três décadas. Apesar das dificuldades, o presidente Fidel Castro manteve-se no poder e continuou resistindo às reformas por que passou todo o antigo bloco socialista.
Na Coréia, só no final da década de 1990 surgiram os primeiros sinais de reforma, em meio a uma aguda crise econômica. Em 2000 as duas Coréias deram os primeiros passos diplomáticos e cerimoniais (o desfile conjunto das delegações nas Olimpíadas de Sídnei) para a reunificação do país.
Na África, Angola e Moçambique, independentes de Portugal desde 1975, haviam feito a opção pelo socialismo. Mas as dificuldades para alcançar um grau mínimo de desenvolvimento eram enormes. Em Angola, os problemas vinham sobretudo da guerra civil travada contra um movimento de oposição armada, a Unita (União para a Independência Total de Angola). Em Moçambique, eram dois os obstáculos principais: um, a guerra de guerrilhas desenvolvida contra o governo e contra a própria população pela Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), ligada a antigos proprietários portugueses e a interesses da África do Sul; outro, não menos cruel, a seca (e a fome dela resultante).
Em Angola, as mudanças começaram no início de 1991, quando o Congresso angolano alterou a Constituição do país, acabando com o sistema de partido único, vigente nos 16 anos anteriores. Foram também elaboradas leis prevendo a volta da economia de mercado e do pluripartidarismo.
Em junho desse ano foram concluídas negociações entre o governo angolano e a direção da Unita, com a assinatura de um acordo de paz cujo cumprimento seria supervisionado pela ONU. Mas a guerra civil continuou, interrompida às vezes por períodos de trégua.
Em Moçambique uma reforma constitucional realizada em 1990 determinou as normas gerais para o funcionamento da economia de mercado e estabeleceu o fim do sistema de partido único, a liberdade de imprensa e a realização de eleições gerais. Em 1992 o Acordo de Roma pôs fim à guerra civil.
Outro país de grande importância é o Vietnã. Após a guerra com os Estados Unidos, à qual se seguiu uma guerra civil que terminou em 1975, o Vietnã do Norte uniu-se ao Vietnã do Sul, constituindo um só país, com capital em Hanói. Os princípios do socialismo eram rigidamente seguidos. Em 1991 o governo vietnamita iniciou um processo de reforma da Constituição, visando instaurar em parte a economia de mercado e acabar com o regime de partido único.
Também no Camboja o regime comunista, em vigor desde 1975, começou a ser abandonado em 1991. Foi assinado um acordo de paz entre o governo, líderes do Khmer Vermelho (grupo guerrilheiro comunista de oposição) e o príncipe Norodon Sihanouk (antigo presidente do país). Por esse acordo, ficou estabelecido um cessar- fogo na guerra civil e uma reorganização do país, com a participação dos três grupos políticos envolvidos.
Os países em que as reformas desencadeadas pela perestroika demoraram mais tempo para se iniciar foram Cuba e a Coréia do Norte.
Em Cuba, o fim da ajuda econômica da União Soviética causou uma terrível crise econômica, apesar de vários países – mas não os Estados Unidos – terem levantado o embargo mantido por mais de três décadas. Apesar das dificuldades, o presidente Fidel Castro manteve-se no poder e continuou resistindo às reformas por que passou todo o antigo bloco socialista.
Na Coréia, só no final da década de 1990 surgiram os primeiros sinais de reforma, em meio a uma aguda crise econômica. Em 2000 as duas Coréias deram os primeiros passos diplomáticos e cerimoniais (o desfile conjunto das delegações nas Olimpíadas de Sídnei) para a reunificação do país.
Nenhum país recentemente passou por uma transformação tão profunda e radical como a Rússia de hoje. Abandonou um regime político-econômico que perdurou por mais de 70 anos, o do Socialismo, e lançou-se em reformas que visavam alterar sua própria essência. Foi uma imensa operação de reversão econômica de um modelo estatizante, baseado na propriedade coletiva dos meios de produção e no planejamento econômico centralizado, para um sistema oposto, o do Capitalismo laissez-faire. Adotaram como modelo, o estado liberal ocidental, onde o intervencionismo reduz-se a um mínimo e as propriedades estatais foram entregues ao controle e administração privados.
As reformas na Rússia ganharam amplo apoio, político e financeiro, dos principais países capitalistas ocidentais em função delas visarem a absorção dela ao sistema capitalista mundial(*). Foram estendidos à Rússia e ao governo de Boris Yeltsin generosos empréstimos que permitiram que ele sobrevivesse politicamente às naturais turbulências do processo. Tudo indica que com a crise asiática e a generalização dos seus efeitos, a Rússia marcha para uma depressão econômica. Tendo uma das maiores reservas do mundo de petróleo, gás, minerais e demais produtos estratégicos (com os quais paga suas dívidas e paga suas importações), qualquer abalo que ela sofra faz com que as economias dos países ricos também se afetem e sintam-se ameaçadas.
(*) Por sugestão da França fundou-se, em 1989, o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento, para amparar as transformações que estavam ocorrendo no Leste europeu.
As reformas na Rússia ganharam amplo apoio, político e financeiro, dos principais países capitalistas ocidentais em função delas visarem a absorção dela ao sistema capitalista mundial(*). Foram estendidos à Rússia e ao governo de Boris Yeltsin generosos empréstimos que permitiram que ele sobrevivesse politicamente às naturais turbulências do processo. Tudo indica que com a crise asiática e a generalização dos seus efeitos, a Rússia marcha para uma depressão econômica. Tendo uma das maiores reservas do mundo de petróleo, gás, minerais e demais produtos estratégicos (com os quais paga suas dívidas e paga suas importações), qualquer abalo que ela sofra faz com que as economias dos países ricos também se afetem e sintam-se ameaçadas.
(*) Por sugestão da França fundou-se, em 1989, o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento, para amparar as transformações que estavam ocorrendo no Leste europeu.
Um dos mais graves problemas que acometem a Rússia atual diz respeito a questão das propriedades. Não tendo uma burguesia autocne e um empresariado preparado, as grandes empresas estatais de petróleo, gás, carvão, ouro, etc...caíram em mãos de seus antigos administradores, de seus ex-gerentes. Eles usurparam aquelas propriedades que eram patrimônio público. A transição da propriedade coletiva para a privada foi desastrosa entre outras razões porque não resultou de um consenso. Um pequeno grupo de homens poderosos, uma oligarquia de arrivistas e oportunistas, tornou-se a nova classe dirigente da Rússia.
Chamaram-nos de os “Sete Boiardos”(*) e se equiparam aos “barões ladrões” surgidos na metade do século 19 nos E.U.A. Ao concentrarem quase toda a riqueza produtiva do pais, exercem enorme influencia junto a Boris Yeltsin e tem rejeitado aceitar as políticas tributárias dele. Em quanto isto os negócios médios e pequenos têm sido controlados por “máfias”, grupos privados que se adonaram de parcelas do mercado e rivalizam-se com os demais. Isto tornou Moscou uma das cidades mais violentas do leste europeu.
As industrias deficitárias, por sua vez, com tecnologia obsoleta, ficaram ainda no controle do estado aumentando-lhe ainda mais o déficit público.
Para criar a sensação de que a Rússia partilhava do mundo do consumo, a administração Yeltsin abriu seu mercado interno aos produtos estrangeiros (grande parte deles de luxo), os quais, até pouco tempo, pagava com a exportação de grãos, petróleo e minerais.
Chamaram-nos de os “Sete Boiardos”(*) e se equiparam aos “barões ladrões” surgidos na metade do século 19 nos E.U.A. Ao concentrarem quase toda a riqueza produtiva do pais, exercem enorme influencia junto a Boris Yeltsin e tem rejeitado aceitar as políticas tributárias dele. Em quanto isto os negócios médios e pequenos têm sido controlados por “máfias”, grupos privados que se adonaram de parcelas do mercado e rivalizam-se com os demais. Isto tornou Moscou uma das cidades mais violentas do leste europeu.
As industrias deficitárias, por sua vez, com tecnologia obsoleta, ficaram ainda no controle do estado aumentando-lhe ainda mais o déficit público.
Para criar a sensação de que a Rússia partilhava do mundo do consumo, a administração Yeltsin abriu seu mercado interno aos produtos estrangeiros (grande parte deles de luxo), os quais, até pouco tempo, pagava com a exportação de grãos, petróleo e minerais.
Graças ao volumoso auxilio que recebia do Ocidente (tanto do FMI como dos E.U.A. e Alemanha) o governo russo conseguiu sobreviver as crises internas (a mais retumbante foi a guerra, entre 1994-96, contra a Chechênia, uma pequena república separatista do norte do Cáucaso) e à oposição que a maioria da Duma lhe faz (o parlamento russo é majoritariamente composto por deputados comunistas e nacionalistas, ambos hostis à política liberal e pró-ocidental de Yeltsin). Porém, sem conseguir modernizar seu aparato industrial e produtivo, nem legitimar o sistema de propriedades, e menos ainda regularizar o seu sistema tributário, (a sonegação fiscal banalizou-se), o governo esvasiou-se, ficou sem recursos.
Os serviços públicos (educação, saúde, transportes e segurança) entraram em colapso e os salários, além de muito baixos, são recebidos com enorme atraso. Afetada pela crise asiática que, em rápidos passos, desloca-se em direção ao Ocidente, e pela volúpia especulativa, a Rússia não resistiu à fuga dos capitais. O governo, tremendamente endividado, apelou para a moratória (suspensão de pagamentos).
As desigualdades sociais tornaram-se gritantes. As ruas e praças das principais cidades russas acolhem um número impressionante de aposentados e pessoas pobres que procuram vender seus escassos bens. A desvalorização do rublo provocou uma alta do dólar, e os bancos, para evitarem a quebra geral, congelaram as contas correntes dos seus depositantes.
Neste cenário sombrio não se vislumbrou, até o momento, alternativas que acenem para uma solução não traumatizante. O governo está paralisado, o presidente Boris Yeltsin enfraquecido politicamente e doente, se esvai a cada dia que passa. A oposição por sua vez propõe algum tipo de reestatização, retomando as antigas bandeiras do regime coletivista desaparecido em 1991. Evidentemente que um governo de coalisão - de salvação nacional - entre os reformistas, os comunistas e os nacionalistas poderia fazer com que pelo menos o pais voltasse a estabilidade. O problema são suas desavenças ideologicas e administrativas.
Os serviços públicos (educação, saúde, transportes e segurança) entraram em colapso e os salários, além de muito baixos, são recebidos com enorme atraso. Afetada pela crise asiática que, em rápidos passos, desloca-se em direção ao Ocidente, e pela volúpia especulativa, a Rússia não resistiu à fuga dos capitais. O governo, tremendamente endividado, apelou para a moratória (suspensão de pagamentos).
As desigualdades sociais tornaram-se gritantes. As ruas e praças das principais cidades russas acolhem um número impressionante de aposentados e pessoas pobres que procuram vender seus escassos bens. A desvalorização do rublo provocou uma alta do dólar, e os bancos, para evitarem a quebra geral, congelaram as contas correntes dos seus depositantes.
Neste cenário sombrio não se vislumbrou, até o momento, alternativas que acenem para uma solução não traumatizante. O governo está paralisado, o presidente Boris Yeltsin enfraquecido politicamente e doente, se esvai a cada dia que passa. A oposição por sua vez propõe algum tipo de reestatização, retomando as antigas bandeiras do regime coletivista desaparecido em 1991. Evidentemente que um governo de coalisão - de salvação nacional - entre os reformistas, os comunistas e os nacionalistas poderia fazer com que pelo menos o pais voltasse a estabilidade. O problema são suas desavenças ideologicas e administrativas.
Broué, Pierre - União Soviética: da revolução ao colapso, Editora da Universidade, Porto Alegre, 1996
Calvocoressi, Peter - World Politics since 1945 - Longman, Londres e Nova Iorque, 1996, 7ª edição
Freeze, Gregory L. (ed.) - Russia a History - Oxford University Press, Oxford, 1997
Gorbachev, Mikhail - Perestroika: novas idéias para o meu país e o mundo, Editora Best-Seller, São Paulo, 1987
Medvedev, Zhores -Gorbachev - José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1987
Nove, Alec - A Economia Soviética - Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1963
Pomeranz, Lenina (org.) - Perestroika: desafios da transformação social na URSS - Edusp, São Paulo, 1990
Remmick, David - How Russia is Ruled - The New York Review of Books, 9 de abril de 1998, vol XLV, nª 6
Calvocoressi, Peter - World Politics since 1945 - Longman, Londres e Nova Iorque, 1996, 7ª edição
Freeze, Gregory L. (ed.) - Russia a History - Oxford University Press, Oxford, 1997
Gorbachev, Mikhail - Perestroika: novas idéias para o meu país e o mundo, Editora Best-Seller, São Paulo, 1987
Medvedev, Zhores -Gorbachev - José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1987
Nove, Alec - A Economia Soviética - Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1963
Pomeranz, Lenina (org.) - Perestroika: desafios da transformação social na URSS - Edusp, São Paulo, 1990
Remmick, David - How Russia is Ruled - The New York Review of Books, 9 de abril de 1998, vol XLV, nª 6
Ed.Ática por
Maria Helena Senise e Alceu Pazzinatto
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Qualquer comentário que for ofensivo e de baixo calão, não será bem vindo neste espaço do blog.
O Blog se reserva no direito de filtrar ou excluir comentários ofensivos aos demais participantes.
Os comentários são livres, portanto não expressam necessariamente a opinião do blog.
Usem-no com sapiência, respeito com os demais e fiquem a vontade.
Admin- UND