Recapitalização dos bancos da Espanha não afasta preocupação de investidor; instituições italianas podem também precisar de ajuda
12 de junho de 2012 | 22h 43
Andrei Netto, correspondente de O Estado de S. Paulo
PARIS - A crise na Europa não para de crescer. Três dias após a liberação de um total de € 100 bilhões em recursos para recapitalizar sistema bancário da Espanha, a agência de rating Fitch anunciou o rebaixamento de mais 18 bancos do país, enquanto nos mercados financeiros os juros cobrados por títulos da dívida pública espanhola atingiam o mais alto patamar de sua história. Mas a cinco dias das eleições na Grécia, que podem definir se Atenas fica ou sai da zona do euro, o foco da turbulência parece cada vez mais se deslocar para uma próxima vítima: a Itália.
O caos da economia da zona do euro cresceu ontem, com a degradação da situação espanhola e com as suspeitas crescentes sobre a solidez da Itália. A nova jornada de más notícias começou pela manhã, quando a Fitch anunciou o rebaixamento em bloco. Na segunda-feira, as notas do Santander e do BBVA, os dois maiores do país, já havia sido reduzida. Ontem, outras 18 instituições foram reclassificadas, entre as quais "os bancos muito expostos ao setor financeiro e de construção e aqueles com base de capital pequena".
Entre as instituições mencionadas, estão Caixabank, Sabadell e Bankia, todos classificados como BBB. Mare Nostrum, Liberbank e Unicaja receberam a nota BBB-, a última antes da perda do grau de investimento.
A decisão trouxe ainda mais instabilidade para a Espanha. Nos mercados de dívida, o prêmio de risco das obrigações soberanas chegou ao ponto mais alto desde a adoção do euro: 6,8% para papéis com validade de 10 anos. As más notícias obrigaram o ministro da Economia, Luis de Guindos, a admitir que o país continua a enfrentar a desconfiança dos investidores. Para ele, a Europa enfrenta dias de "enorme volatilidade e tensão" às vésperas da eleição na Grécia, no próximo domingo, quando uma eventual vitória da extrema esquerda pode levar o país a ser excluído da zona do euro.
Próxima vítima. Não bastassem as dúvidas que pairam sobre os dois países, cresce na Europa o temor de que a Itália seja contagiada. Na segunda-feira, a ministra de Finanças da Áustria, Maria Fekter, afirmou que o sistema bancário italiano também pode ser obrigado a pedir um resgate similar ao espanhol nos próximos dias. "A Itália deve sair desse dilema econômico de altos déficits e dívida. Mas, naturalmente, é possível que o país precise de um auxílio, diante das taxas elevadas que a Itália já enfrenta para refinanciar sua dívida nos mercados", afirmou a ministra, em entrevista a uma rede de TV.
O comentário provocou a ira do primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, que disparou ontem contra a falta de solidariedade no interior da União Europeia. "É totalmente inapropriado que um ministro de Finanças de um país-membro comente dessa maneira a situação de outro país-membro", disparou, reclamando: "Me recuso a fazer qualquer comentário sobre as declarações".
O problema é que no mercado de obrigações, as dívidas da Itália também alcançaram juros acima do considerado sustentável pelos mercados. Ontem, a taxa para títulos com validade de 10 anos chegou a 6,2%, trajetória bem parecida à taxa cobrada da Espanha há dois meses.
Para analistas, a crise na União Europeia está se aprofundando nos últimos dias sem nenhuma intervenção dos dois países mais importantes do bloco, Alemanha e França. Nos bastidores, sabe-se que a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, negociam reformas na governança europeia, mas desde o resgate da Espanha nenhum comentário sobre as propostas na mesa foi feito. "A situação da Espanha, por exemplo, é pior do que a da última semana", avaliou Nordine Naam, analista do banco francês de investimentos Naxitis.
Entre as dúvidas que pairam sobre o bloco, estão questões básicas ainda não resolvidas. Sobre o resgate da Espanha, como por exemplo, não está de todo resolvido se os € 100 bilhões virão do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), que será extinto dia 30, ou se do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), o fundo que o sucederá a partir de julho.
A questão é importante porque envolve as modalidades e os juros cobrados pelo reembolso do empréstimo.
http://economia.estadao.com.br
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