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19 de outubro de 2011

A Escalada. Nova novela da Elite Global. Em Breve nas mídias mais próximas de você

O "deus" dos americanos continua sedento por sangue


EUA: escalada contra o Irã

19 outubro, 2011
por Husc
O bombástico anúncio feito por autoridades do governo dos EUA, sobre uma suposta trama iraniana para assassinar o embaixador saudita em Washington, sugere que o Irã voltou ao topo das prioridades dos estrategistas estadunidenses, após meses em um plano secundário ensejado pela Primavera Árabe e o ataque militar à Líbia. A intenção de promover uma escalada na confrontação com Teerã ficou evidenciada nas agressivas declarações de autoridades como o vice-presidente Joe Biden e a secretária de Estado Hillary Clinton, tendo esta última anunciado a deflagração de uma ofensiva diplomática internacional para isolar o Irã, “convocando” o resto do mundo a se juntar aos EUA “na condenação à ameaça à paz e a segurança internacionais”.
A suposta trama foi revelada pelo procurador-geral Eric Holder, na terça-feira 11 de outubro. Segundo ele, o FBI e a agência antidrogas DEA haviam desbaratado um plano de dois iranianos para matar o embaixador saudita em Washington, com o auxílio de um suposto integrante do cartel de drogas mexicano Los Zetas, que, na verdade, era um informante da DEA. Um dos iranianos, Mansur Arbabsiar, é cidadão estadunidense naturalizado e o outro, Gholam Shakuri, estaria foragido no Irã, onde seria um integrante da Força Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária iraniana. Holder, que admitiu que o plano se assemelhava “a um roteiro de Hollywood”, afirmou que Arbabsiar pagou 100 mil dólares ao suposto sicário do cartel mexicano, os quais teriam sido enviados do exterior por meio de uma conta bancária ligada à Força Quds.
O resultado imediato foi uma barragem de retórica inflamada contra o regime de Teerã. Em entrevista ao programa Good Morning America da rede de televisão ABC, na quarta-feira 12, o vice-presidente Joe Biden afirmou que, em termos de retaliação, “nada está descartado”. Segundo ele, “é criticamente importante que unamos o mundo no isolamento e no trato com os iranianos”.



Hillary Clinton foi na mesma linha, dizendo que a trama “cria um potencial para uma reação internacional que isole ainda mais o Irã, que levantará questões sobre o que eles estão fazendo, não apenas nos EUA e no México (Reuters, 12/10/2011)”




Por sua vez, o senador Carl Levin, presidente da Comissão das Forças Armadas do Senado, não mediu palavras para qualificar a suposta trama como um “ato de guerra”.

Em uma clara demonstração das intenções dos círculos mais belicosos do Establishmentestadunidense de explorar ao máximo as denúncias, Elliot Abrams, ex-membro do Conselho de Segurança Nacional e um dos mais virulentos “falcões” do país, escreveu em seu blog no sítio do Conselho de Relações Exteriores (CFR): “O atrevimento – é a única palavra adequada – deste planejado ato de terrorismo na capital da nossa nação deveria ensinar-nos que não se pode permitir que o regime de Teerã adquira armas nucleares… Se eles agem desta maneira agora, como agirão se conseguirem armas nucleares?”
Ao mesmo tempo, a representante estadunidense nas Nações Unidas, Susan Rice, acompanhada de seu colega saudita e altos funcionários do FBI, da CIA e do Departamento de Justiça, se reuniram separadamente com os representantes do Conselho de Segurança para informá-los melhor sobre a denúncia e buscar apoio para uma nova rodada de sanções punitivas contra Teerã. As reações foram as esperadas, tendo o Reino Unido e a França manifestado apoio ostensivo aos EUA e a China e a Rússia, recebido os “briefings” com as devidas reservas. Em Londres, o chanceler William Hague disse que o complô assinala uma escalada do patrocínio do terrorismo internacional pelo Irã. A Alemanha e a Itália reagiram mais cautelosamente, limitando-se a exigir explicações de Teerã (AP, 12/10/2011).
A denúncia ocorre em um momento em que Teerã fazia vários gestos de boa vontade em relação ao Ocidente, como a libertação de dois estudantes estadunidenses que estavam detidos no país há dois anos, acusados de espionagem, depois de cruzar a fronteira Iraque-Irã, segundo eles, acidentalmente. Igualmente, o presidente Mahmoud Ahmadinejad propunha uma renegociação sobre o controvertido programa nuclear do país, oferecendo a renúncia à produção de urânio enriquecido a 20% para reatores de usos médicos, em troca de um fornecimento regular e garantido do combustível. O problema é que um acordo do gênero, simplesmente, poderia neutralizar um dos principais pretextos dos EUA e de seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para manter as pressões contra o Irã e, portanto, não se pode descartar que a revelação sobre o suposto complô esteja relacionada a tais movimentos.
Ademais, uma escalada de pressões contra o Irã proporciona um cenário perfeito para contra-arrestar os impactos negativos para a agenda hegemônica de Washington, causados pela “Primavera Árabe” (aí incluído o papel crucial da Arábia Saudita em impedir a sua expansão a países como o Bahrein e o Iêmen) e o pleito palestino pelo reconhecimento do seu Estado nacional. Sem falar na possibilidade de que o acirramento das sanções contra Teerã implique em um aumento das probabilidades de ocorrência de atritos e incidentes, espontâneos ou provocados, que possam ser utilizados para justificar uma eventual investida militar contra o país.
Apesar de as Forças Armadas estadunidenses se encontrarem exauridas pelas campanhas intermináveis no Afeganistão-Paquistão e Iraque, uma confrontação militar com o Irã, há muito pedida pelos “neoconservadores” que dominaram a política externa do Governo Bush filho e ainda gozam de grande influência em Washington, ensejaria a tais círculos oligárquicos uma oportuna válvula de escape para os desdobramentos da crise multidimensional em curso. Entre eles, a crise econômico-financeira, os crescentes protestos contra os excessos da alta finança e, não menos, as repercussões do ainda não superado escândalo da chamada “Operação Velozes e Furiosos”, um bizarro esquema de distribuição que entregou milhares de armas marcadas a narcotraficantes mexicanos, alegadamente, para segui-las e identificar os chefes dos cartéis (MSIa Informa, 15/07/2011) – com a qual, aparentemente, a suposta trama iraniana apresenta uma interface.
A conexão foi feita pelo sempre arguto correspondente do Asia Times Online, Pepe Escobar, em sua coluna de 14 de outubro:
O complô é bastante oportuno para desviar a atenção da Arábia Saudita como beneficiária de uma multibilionária venda de armas estadunidenses. E, também, bastante oportuno para desviar a atenção do próprio [procurador Eric] Holder – apanhado em outro escândalo monstruoso, sobre se ele mentiu a respeito da Operação Velozes e Furiosos (não, não dá para consertar este negócio), uma operação federal por meio da qual nada menos que 1.400 armas estadunidenses de alta potência acabaram, sem ser acompanhadas, nas mãos de – adivinharam – cartéis de drogas mexicanos. Parece que a franquia da “Velozes e Furiosos” é a arma de entretenimento de escolha de todos os níveis do governo dos EUA.
Quanto à credibilidade da denúncia, ela tem sido questionada por numerosos analistas e observadores, até mesmo nos próprios EUA, a começar pelo fato de que o “terrorista” Mansur Arbabsiar, que tem um histórico de pequenos negócios fracassados nos EUA, ter sido apanhado em uma operação de aliciamento (sting operation, no jargão de inteligência) semelhante às muitas que o FBI tem montado contra potenciais suspeitos de inclinações terroristas (MSIa Informa, 1/09/2011).
Em conversa com a correspondente da rede australiana ABC, Eleanor Hall (12/10/2011), o ex-agente da CIA Robert Baer, que atuou no Oriente Médio por mais de 25 anos, foi categórico:
(…) Isso não se encaixa, de modo algum, no modus operandi deles. É completamente fora do padrão, eles são muito melhores do que isso. Eles não enviariam dinheiro por meio de um banco estadunidense, não iriam atrás dos cartéis no México para fazer isso. Não é a maneira como operam. Eu os tenho seguido por 30 anos e eles são muito mais cuidadosos. E sempre usam um intermediário entre eles e a operação, o que não fizeram nesse caso. Quero dizer, ou eles estão dando um tiro no pé ou há outras peças da história, e eu não sei quais são.
Na mesma linha, Kenneth Katzman, especialista em assuntos iranianos do Serviço de Pesquisas do Congresso, disse ao jornal Christian Science Monitor (12/10/2011): “Querem que acreditemos que um vendedor de carros do Texas era um agente adormecido da [Força] Quds por muitos anos, residindo nos EUA? Ridículo? Eles nunca usam esses fracassados ou pessoas sem relações importantes para tramas sensíveis como essa.”
Em entrevista à Fox News (12/10/2011), outro veterano especialista em assuntos do Oriente Médio, o tenente-coronel da reserva do Exército Anthony Shaffer, revelou que um amigo seu dentro do FBI lhe informara que a agência não tinha qualquer informação real sobre o “terrorista” Arbabsiar e que o vendedor de carros havia sido vítima de outra operação de aliciamento.

Talvez, a melhor síntese da situação tenha sido feita pela chefe do Departamento de Estudos do Oriente Médio da City University de Londres, Rosemary Hollis. Para ela, o fato de Arbabsiar ter sido apanhado em uma operação do gênero dificulta a avaliação da seriedade da trama, mas o relevante é que todo o caso transmite “um sinal importante de um período muito volátil e potencialmente perigoso à frente”. A denúncia, disse, “se assemelha a uma advertência de que os EUA estão prestes a atuar de uma forma mais assertiva com o Irã e farão isto em estreita coordenação com os sauditas (Reuters, 12/10/2011)”.


Movimento de Solidariedade Íbero-americana


Fonte: Blog do ambientalismo
Imagem: google

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