ONU estende missão de observadores, enquanto milhares fogem da Síria
Acordo para prorrogação de 30 dias para observadores ficarem no país em conflito ocorre paralelamente à fuga de 30 mil para o vizinho Líbano nas últimas 48 horas
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou por unanimidade nesta sexta-feira uma prorrogação por 30 dias da missão de observadores na Síria, enviada ao país como parte do plano de paz do enviado Kofi Annan para pôr fim ao conflito de 16 meses. O acordo ocorre paralelamente à escalada dos confrontos em Damasco e ao aumento do número de refugiados sírios que fogem para países vizinhos.
De acordo com a Agência da ONU para refugiados (Acnur), mais de 30 mil sírios cruzaram a fronteira em direção ao Líbano nas últimas 48 horas, segundo a BBC. A agência disse ainda que no Líbano já havia 26,9 mil refugiados sírios, apesar de ativistas falarem em números muito maiores.
Segundo uma fonte da Acnur à Agência France Presse, cerca de 2,5 mil sírios chegaram à Jordânia nos últimos quatro dias, somando-se aos 35 mil sírios que estavam registrados no país vizinho como refugiados.
Acredita-se que cerca de 140 mil sírios fugiram para a Jordânia desde o início do levante popular contra Assad, em março de 2011. O governo jordaniano está construindo diversos campos de refugiados para abrigá-los.
Há relatos ainda de que mais de 3 mil sírios cruzaram a fronteira com o Iraque nas últimas 24 horas.
Com o aumento da violência no país, rebeldes tomaram diversos postos de controle na fronteira com o Iraque e na fronteira norte com a Turquia, no fim da quinta-feira.
Terceiro veto
A missão de observadores da ONU que foi prorrogada na Síria tem até 300 observadores militares desarmados cuja função tem sido monitorar um possível cessar-fogo.
A maioria da atividade de monitoramento foi suspensa em 16 de junho por conta do crescente aumento na violência. Há também 100 funcionários civis trabalhando por uma solução política e monitorando outras questões como o respeito aos direitos humanos.
O futuro da missão havia ficado incerto com o veto da Rússia e da China a novas sanções da ONU ao regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, na quinta-feira. A resolução proposta por países ocidentais previa sanções caso as forças de Assad não recapitulassem e não suspendessem o uso de armas pesadas em áreas populosas, dentro de 10 dias.
Nesta sexta-feira, o governo russo do presidente Vladimir Putin declarou que qualquer tentativa de atuar contra o regime sírio sem o consenso do Conselho de Segurança da ONU será ineficaz.
"Segundo o presidente russo, qualquer tentativa de atuar fora do Conselho de Segurança da ONU será ineficaz e prejudicará a autoridade desta organização internacional", declarou o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.
De acordo com a agência russa Interfaz, a Rússia adiou o envio de um navio com helicópteros à Síria nesta sexta-feira.
Cerco à capital
Nesta sexta-feira, a capital síria de Damasco entrou no sexto dia de combates, com forças leais a Assad lutando contra rebeldes opositores na área de Midan.
A mídia estatal anunciou que Midan havia sido “livrada” de “terroristas”. Rebeldes afirmaram que deixaram o distrito depois de estarem sob bombardeio.
Autoridades permitiram que jornalistas entrassem em Midan na sexta-feira. As cenas eram de corpos cobertos de poeira pelas ruas, com tanques e carros queimados na área.
Segundo ativistas, os combates estão crescendo também em Aleppo, a segunda maior cidade da Síria.
O regime sírio organizou nesta sexta-feira funerais oficiais para os três altos dirigentes mortos no atentado de quarta-feira em Damasco, cerimônia que foi acompanhada pelo vice-presidente Faruk al Shareh.
"Damasco se despediu dos heróis mártires em uma solene cerimônia oficial nesta manhã (sexta-feira) no monumento ao mártir do Monte Qassiun", informou a agência estatal Sana.
Sana se referia ao ministro da Defesa, Dawoud Rajha, e seu vice-ministro, Assef Shawkat, cunhado de Assad, do chefe da célula de crise, Hassan Turkmani, mortos no atentado reivindicado pelo Exército Sírio Livre (ESL), formado por desertores e civis armados.
Reprodução de vídeo amador mostra rebelde sírio arrancando retrato de presidente Bashar al-Assad, no posto de fronteira de Bab al-Hawa com a Turquia
Na cerimônia estiveram presentes o vice-presidente, o novo ministro da Defesa, Fahd Jassem al-Freij, assim como o secretário regional adjunto do governista Partido Baath, Mohamed Said Bajitan, o presidente do Parlamento, Mohamed Jihad Lahham, e o primeiro-ministro, Riad Hijab, além dos ministros e oficiais superiores do regime.
O governo sírio anunciou que o major-general Hisham Ikhtiar, que chefia o Departamento de Segurança Nacional, morreu nesta sexta-feira devido aos ferimentos do ataque de quarta-feira contra o prédio que abriga a sede da Força de Segurança Nacional no centro da capital, no qual outras três autoridades morreram.
Brasil
Ainda nesta sexta-feira, o governo brasileiro retirou diplomatas da Síria em meio à intensificação dos confrontos entre rebeldes e tropas leais ao regimeem Damasco. A transferência, segundo o Itamaraty, não altera as relações bilaterais.
O embaixador Edgard Casciano e outros funcionários da diplomacia brasileira deixaram a capital síria por via terrestre e chegaram a Beirute, no Líbano, na manhã desta sexta-feira. O Itamaraty afirmou que a transferência temporária dos diplomatas para a capital libanesa não implica o fechamento da representação brasileira em Damasco e que um funcionário permanecerá no posto como ponto de contato com o consulado-geral em Beirute e a Embaixada do Brasil em Amã.
Na quinta-feira, Casciano contou por telefone à BBC Brasil que a violência na capital síria havia se intensificado e funcionários da embaixada brasileira haviam sido orientados a não ir trabalhar no dia seguinte. Ele disse que a capital passou a viver seus dias mais violentos desde o início da crise, com intensos tiroteios que deixaram as ruas completamente desertas.
"O perigo é real. É impossível pôr os pés na rua. É uma situação extremamente problemática", disse o embaixador. Ele contou que os tiroteios e explosões eram tão intensos na noite de quarta-feira que não conseguiu dormir. "Helicópteros sobrevoavam constantemente e dava para ouvir muitas explosões que, pela intensidade, eram consequência de armas pesadas".
O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Antonio Patriota, disse que poucos brasileiros entre os cerca de 3 mil que vivem na Síria querem deixar o país. “A maioria tem pequenos negócios, construiu sua vida na Síria e não tem a intenção de partir”, disse, ao acrescentar que eles têm dupla nacionalidade.
Até a noite de quinta-feira, o Itamaraty mantinha um plano de retirada dos brasileiros da capital síria, Damasco, por via terrestre. Há uma estrada considerada de qualidade que interliga a cidade a Beirute, no Líbano. No entanto, depois de consultas verificou-se que a maior parte dos brasileiros era contrária à saída da Síria.
O chanceler acrescentou, porém, que os brasileiros interessados em deixar o país terão apoio do governo brasileiro. “Os que pedirem apoio para partir, nós daremos. Mas tem sido um número relativamente pequeno”, disse Patriota.
A ofensiva do Exército Livre da Síria (ELS) contra tropas leais ao governo em Damasco começou no domingo. Vários bairros nos subúrbios ao sul da capital foram tomados por rebeldes.
O governo vem mobilizando mais tanques e tropas em direção à capital e, segundo analistas, isso antecede uma grande batalha pela cidade. De acordo com a ONU, a repressão ao levante popular que exige a renúncia de Assad deixou mais de 16 mil mortos desde seu início, em março de 2011.
*Com BBC, AP e AFPVia Último Segundo
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