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28 de fevereiro de 2012

Artigo: Grécia entre a espada e a parede

Em política é muito frequente as palavras ditas em público não corresponderem às ideias de quem as profere e até contrastarem com o que é dito em privado. Na crise grega tem sido quase sempre assim. Primeiro, a Grécia não precisava de um resgate. Acabou por tê-lo em maio de 2010. Depois, a ideia de reestruturar a dívida era um absurdo. O absurdo acabou em julho passado. Desde então o ‘contributo’ dos privados não tem parado de aumentar.
É óbvio que os políticos não podem dizer tudo o que lhes vai na alma, até porque num contexto de crise financeira os estragos podem ser enormes. Mas talvez devessem ter um discurso ligeiramente mais próximo da realidade sob pena de perderem a credibilidade. Agora, quando o comissário europeu Oli Rehn ou o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, recusam liminarmente um segundo pacote para Portugal ou uma reestruturação de dívida alguém acredita?  
O novo pacote grego aprovado esta terça-feira em after-hours em Bruxelas volta a sofrer do mesmo mal. Ainda a reunião não tinha terminado, já o Financial Times divulgava um documento interno – supostamente “estritamente confidencial” – que apresentava vários riscos de a Grécia falhar as metas de dívida e de, mesmo cumprindo a maior parte do programa, poder necessitar mais €50 mil milhões em 2015.
Os mercados reagiram mal ao acordo, ao contrário do que era frequente nas cimeiras anteriores. Têm razões para isso? Sim, várias. A primeira, a longo prazo, é o facto de não haver garantias que a dívida entra numa trajetória sustentável e de que no futuro próximo não seja necessário mais dinheiro. A economia grega está em queda livre e só com uma varinha mágica se controlam défices assim.  
Mas há outras razões para desconfiar, neste caso da capacidade de concretização do próprio plano: ninguém sabe qual vai ser o contributo do FMI, não se sabe também se e como o BCE vai fazer chegar à Grécia os ganhos que teve com a sua dívida e, mais importante, o perdão de dívida dos privados não é fácil e pode implicar um evento de crédito (acionando os famigerados credit default swaps).
O pacote maravilhoso que ia resolver o problema grego de vez não é assim tão poderoso. E para que tenha aprovação final na próxima semana o governo grego terá que cumprir um exigente programa, com algumas medidas bastante intrusivas do ponto de vista da sua soberania.  
Além da conta especial para pagar dívidas a credores e de um representante permanente em Atenas, sabe-se agora, segundo a imprensa internacional, que há um conjunto de 38 medidas que terão que estar cumpridas nos próximos dias para o pacote ser aprovado na próxima quinta-feira. Há depois muitas outras que terão que estar concluídas até final do ano. Aliás, a maior parte do plano acordado entre a troika e Atenas deve ser aplicado já este ano.
Existem medidas para todos os gostos, desde alterações fiscais a mexidas na saúde e profissões reguladas, que vão pesar drasticamente no bolso dos gregos. E não apenas dos mais ricos. Pelo contrário, o corte no salário mínimo – ainda que este seja superior ao português – atinge claramente as classes mais baixas. 
É um caderno de encargos apertadíssimo que não será nada fácil de implementar. Vale a pena lembrar que a Grécia está com um governo tecnocrata desde novembro, suportado por uma coligação de três partidos que nem sempre se entendem e que vai a eleições dentro de pouco tempo com a extrema-esquerda altamente bem colocada nas sondagens.
Como se viu pelas palavras do presidente grego na semana passada, em resposta ao ministro das Finanças alemão, o problema já não está há muito no plano estritamente económico-financeiro. Agora é uma questão política e a contestação tem crescido muito à custa da ingerência externa mais do que das medidas de austeridade.  
Da Europa, várias vozes vão insistindo que a zona euro é indivisível. Mas também já disseram tantas outras coisas que acabaram por não se confirmar que as dúvidas são legítimas. Ao mesmo tempo que os responsáveis políticas dizem que a Grécia não vai sair do euro, os atos dão sinais contrários. Várias medidas parecem ir no sentido de proteger o resto da zona euro de um grande embate. A reestruturação da dívida e a recapitalização dos bancos como uma espécie de primeira tranche do colapso total ou o reforço do fundo de resgate para acorrer a situações de contágio são dois exemplos. 
Pode ser só impressão, mas as garantias de que a União Europeia não vai largar a Grécia já pareceram mais verdadeiras.   
FONTE
e O Fim dos Tempos.Net

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