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16 de dezembro de 2010

Recordando a crise grega.

Um ótimo artigo sobre a crise que abala a Europa e o que ela tenta nos ensinar.
Um novo episódio da crise capitalista Grécia e Reino Unido: sinais da falência do capitalismo europeu
A greve geral, o pacote econômico e os fortes confrontos dos trabalhadores na Grécia e as conturbadas eleições no Reino Unido prenunciam uma evolução profunda da crise capitalista nestes países e uma tendência revolucionária de grandes proporções em toda a Europa
Dezembro  2010
Na última semana um dos principais destaques foram os grandes conflitos que aconteceram na Grécia devido à aprovação do pacote de austeridade fiscal que o governo grego aplicou para poder receber a ajuda de 110 bilhões de euros dos países da zona do euro e do FMI (Fundo Monetário Internacional).
A aprovação do plano de austeridade consiste num comprometimento do governo grego em reduzir o déficit fiscal a 3% do PIB (Produto Interno Bruto) até o ano de 2014. Atualmente o déficit público da Grécia é de 13,6% do PIB. Para chegar nesta meta de 3% a proposta é que o governo grego reduza nos próximos três anos o orçamento em 30 bilhões de euros.
Esta redução e a meta de 3% de déficit são medidas que vão se chocar diretamente com a classe trabalhadora grega, pois consistem no corte de benefícios trabalhistas, aumento de impostos, cortes e congelamento dos salários por no mínimo três anos, queda nos investimentos públicos, aumento da idade para a aposentadoria etc.
Diante destas notícias os trabalhadores gregos não deixaram por menos e iniciaram uma contra-ofensiva. No último dia 5 realizaram uma nova greve geral que reuniu mais de 100 mil trabalhadores somente na capital Atenas. Os confrontos foram violentíssimos entre os manifestantes e a polícia. A população fez uma passeata de protesto no centro da capital contra a tentativa do governo de atacar os direitos dos trabalhadores em troca da ajuda do FMI e da União Européia de 110 bilhões de euros para tentar salvar o país da grave crise econômica.
Os manifestantes entraram em confronto com a polícia ao tentar ultrapassar uma barreira policial em frente ao parlamento em Atenas. Em Tesalonica, no norte do país, manifestantes também se enfrentaram com a polícia durante uma passeata de protesto. Neste dia morreram três pessoas.
A greve já havia começado um dia antes, no dia 4, quando funcionários públicos e trabalhadores pararam suas atividades. No dia seguinte foram os trabalhadores de empresas privadas e o os trabalhadores dos transportes que pararam.
Também aderiram ao movimento os trabalhadores dos órgãos de imprensa com destaque para os operários das gráficas. A Grécia ficou completamente paralisada, com exceção do setor de emergência dos hospitais, os transportes terrestres e aeroportos, comércios, escolas etc. foram todos fechados.
Os próximos da fila
Mesmo com o anúncio do pacote de 110 bilhões de euros ou 140 bilhões de dólares as bolsas de valores européias caíram durante toda a semana.
O principal motivo da instabilidade foram os sinais de propagação da crise econômica grega para outras economias igualmente falidas com a crise, em particular, de Portugal, Irlanda, Itália, e Espanha (PIIGS). Estes países também possuem altíssimos déficits públicos.
Nas bolsas européias, o setor mais afetado foi o bancário que liderou a onda de quedas na última semana. As ações mais desvalorizadas foram dos bancos Santander, BBVA, Société Générale e Barclays que chegaram a ter suas ações desvalorizadas em até 7%.
Outra bolsa européia que também ficou bastante desvalorizada foi a bolsa de Londres que mesmo não fazendo parte da zona do euro foi bastante afetada.
Depois da Grécia, Portugal e Espanha estão na fila para aprovar pacotes semelhantes visando o corte de gastos. Isto significa que a política de ataque às condições de vida dos trabalhadores vai ser implantada em todos os países europeus.
A Grécia é o tubo de ensaio para os demais líderes europeus e pela resposta dada pelos trabalhadores gregos percebe-se que está por vir uma situação incontrolável para os governos europeus.
Confronto com a polícia
A paralisação atingiu cerca de 80% da força de trabalho em todo o País.
As grandes manifestações tomaram de assalto as ruas da capital, reunindo-se em volta do Parlamento grego para protestar contra os ataques aos direitos trabalhistas anunciados pelo governo.
Conforme divulgado pela imprensa local, além de Atenas, grandes manifestações ocorreram também em Patras, Loanina e Salônica, onde cerca de 30 mil pessoas saíram às ruas para protestar contra as medidas do governo.
Mas o centro das manifestações foi a cidade grega de Atenas, onde uma agência bancária e a sede do Ministério da Fazenda foram incendiadas e milhares de pessoas entraram em confronto com a polícia, se defendendo da tropa de choque com pedras e coquetéis molotov.
Este dia de confronto no Parlamento foi o mais violento desde o início da crise quando ocorreu a morte de três pessoas e a polícia deixou inúmeros feridos e presos.
Os manifestantes queimaram bancos e prédios públicos, como o ministério da agricultura, em uma clara demonstração do descontentamento e da revolta popular contra o governo e os capitalistas responsáveis pela crise.
A intensidade do confronto da classe trabalhadora grega contra o governo e a União Européia demonstra o aprofundamento da crise da burguesia na tentativa de conter a falência generalizada em todo o continente europeu. Os trabalhadores gregos e a classe operária da Europa não vão permitir que todo o ônus da crise capitalista recaia sobre suas costas.
O próximo período será de grandes lutas e uma intensa mobilização dos trabalhadores na Grécia, mas também em toda a Europa. A mobilização dos trabalhadores gregos é um sinal do surgimento de tendências revolucionárias na Europa.
Regime político falido
O resultado das eleições no Reino Unido coloca o regime político britânico em um impasse. O partido vencedor, o Partido Conservador, não tem a maioria das cadeiras no parlamento.
Depois de 18 anos, o Partido Conservador ganhou as eleições no Reino Unido. As eleições ocorreram na última quinta-feira, dia 6. O resultado deu 36,4% do total de votos aos conservadores, 28,8% aos Trabalhistas e 22,8% do Partido Liberal Democrata. Desde o ano de 1992 que os Conservadores não venciam uma eleição no Reino Unido.
O Partido Conservador, liderado por David Cameron, foi o mais votado, mas não tem maioria absoluta dos 650 deputados que compõem o Parlamento. O Partido Conservador obteve 306 cadeiras. É necessário ter no mínimo 326 deputados, a maioria absoluta, para que se possa formar um governo estável. Portanto, a definição da composição do novo governo será feita por meio de negociações entre os partidos foram eleitos. O Partido Trabalhista ficou com 258 assentos e o terceiro colocado, o Partido Liberal Democrata com 57 deputados eleitos.
As eleições no Reino Unido foram marcadas também por problemas durante a votação. Vários eleitores não puderam votar, pois colégios eleitorais foram fechados quando ainda havia filas e a apuração foi extremamente demorada.
Os Trabalhistas perderam as eleições depois de 13 anos no poder. A crise do regime político inglês se arrasta desde 1997 quando os Conservadores perderam as eleições. Esta derrota provocou um abalo no bipartidarismo britânico.
Agora, com este quadro diferente, a formação do novo governo não fica a cargo apenas dos Conservadores. O partido Liberal-democrata se converteu no fiel da balança do regime político britânico.  Será o Partido Liberal-democrata que irá definir quem vai ficar no poder, os Conservadores ou os Trabalhistas. 
Segundo um especialista britânico, os Liberais Democratas vão estabelecer a negociação para a formação do novo governo, "Eles decidirão com quem querem negociar primeiro" (BBC, 7/5/2010).
Não existe um prazo final estabelecido para a formação de um novo governo no Reino Unido, mas o dia 25 de maio seria uma data-chave para isso, pois neste dia a rainha deve determinar, em discurso, quais serão as prioridades do novo governo.
Segundo o professor Robert Hazell, Gordon Brown continua no cargo de primeiro-ministro até que este impasse sobre a formação do novo governo seja solucionado. "Temos sempre que ter um governo, e até que um novo governo possa ser formado, o governo atual continua" (Idem), disse Hazell.
O que precisa ficar claro é que sem o apoio do Partido Liberal-democrata nenhum dos dois partidos (Conservador e Trabalhista) se sustenta. O Partido Conservador está em crise há 13 anos e não teria condições de governar sozinho. Já o Partido Trabalhista está praticamente liquidado depois de ficar 13 anos no governo. A política pró-imperialista de Gordon Brown, uma continuidade da mesma política do anterior, Tony Blair, deixou o primeiro-ministro com uma enorme impopularidade. A política de participação nas guerras do Iraque e do Afeganistão e o total fracasso em conter a crise econômica fez com que o Partido Trabalhista perdesse muitos votos e entrasse em uma crise profunda.
O regime político britânico está à beira de um colapso. Não bastasse o avanço da recessão no país e em toda a Europa agora a crise política causada por estas eleições deve levar o país a uma situação ainda mais delicada onde qualquer governo que seja terá que acertar as contas com a classe operária inglesa.

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