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27 de novembro de 2011



Dois movimentos islâmicos caminham para o confronto no Egito

27 de novembro de 2011 17h02 atualizado às 17h11

Os salafistas, mais fundamentalistas, disputam vagas com a Irmandade Muçulmana no Egito. Foto: AP
Os salafistas, mais "fundamentalistas", disputam vagas com a Irmandade Muçulmana no Egito
Foto: AP


Tariq Saleh
Direto do Cairo
Juntos, os movimentos islâmicos no Egito são considerados favoritos para ganhar cerca de 45% de cadeiras no Parlamento do país, após as eleições de segunda-feira, dia 28. Aliados e perseguidos nos tempos do antigo regime liderado pelo ex-presidente Hosni Mubarak, a Irmandade Muçulmana e os Salafistas proporcionaram um "show" em rede nacional na última sexta-feira, quando dois de seus líderes brigaram ao vivo e trocaram acusações mútuas.
"Seu movimento recebe ajuda financeira da Árabia Saudita", disse o membro da Irmandade para o salafista, que logo devolveu: "E sua Irmandade recebe dinheiro do Irã".
Analistas e colunistas políticos egípcios já vinham alertando para um rompimento natural entre dois movimentos que, apesar de terem raízes no Islã político e possuírem uma grande base de eleitores, têm visões diferentes para o país e entraram em uma rota de colisão nos últimos meses.
Durante décadas, secularistas e liberais egípcios temeram a ascenção dos islamistas, mas na revolução do início do ano que derrubou Mubarak, todos se uniram em torno de uma causa comum.
Mas, após a revolução, duas escolas islamistas entraram em choque - os mais "moderados", a Irmandade Muçulmana contra os mais "fundamentalistas", os salafistas. Egípcios já relataram casos de cartazes de salafistas serem arrancados e substituídos por aqueles ligados à irmandade, ou vice-versa.
"Este é um caso complicado, uma relação antiga mas de ambiguidades. Simplesmente são visões diferentes, duas formas diferentes de fazer política", disse o cientista político Walid Kazziha, da Universidade Americana do Cairo.
Segundo o analista, a ascenção ao poder da Irmandade Muçulmana ou de salafistas coloca medo nos grupos seculares ou nos cristãos coptas do Egito. "Muitos se perguntam se a Irmandade pode tornar os salafistas mais moderados, ou se os salafistas podem radicalizar a Irmandade", enfatizou.
Até pouco tempo atrás, membros os dois movimentos falavam em público usando um tom de unidade, mas, há duas semanas, líderes da Irmandade pediram também publicamente que salafistas baixassem o tom radical de seus discursos. "O problema real dos salafistas é que eles jamais praticaram política no passado e eles precisam reconsiderar seus discursos porque estão afetando os islamistas em geral", disse Mahmoud Ghezian, porta-voz da Irmandade Muçulmana.
O Partido Justiça e Liberdade, criado pela Irmandade, tem adotado discursos mais moderados e discretos visando às eleições parlamentares. Os salafistas criaram o Partido Nour para eleger seus representantes para o parlamento. Em uma recentente conferência islâmica no Cairo, salafistas e outros grupos islâmicos instruiram seus candidatos a agir de forma ética durante as campanhas eleitorais.
Diferenças
Mas, segundo o analista islâmico Adel Noor, a Irmandade e os salafistas representam duas doutrinas políticas bem diferentes. "A Irmandade foi uma das forças decisivas para tirar do poder Hosni Mubarak e seus membros, especialmente os mais jovens e liberais, andaram lado a lado com ativistas, blogueiros e seculares nos protestos antigoverno", disse Walid Kazziha.
Ainda de acordo com ele, a Irmandade vem de uma experiência de 10 anos no Parlamento, com seus deputados adquirindo o conhecimento da complexidade da política egípcia e seus mecanismos. "Seu partido até possui dois candidatos que são cristãos coptas", completou.
"Salafistas, por outro lado, possuem uma visão mais estrita do Islã, baseados na lei sharia (lei islâmica). Eles passaram as últimas décadas em mesquitas e escolas religiosas, sem nenhuma experiência política", explicou. "Eles (salafistas) falam mais em termos gerais sobre suas visões políticas, em justiça e sabedoria sobre a sociedade egípcia sem ma objetividade. Perguntas sobre projetos políticos são respondidas com versos do Alcorão".
Presença
Não há pesquisas feitas no Egito para prever quantas cadeiras no Parlamento serão conquistadas pelos islâmicos. Com cerca de 5 mil candidatos disputando 500 cadeiras, o Parlamento será responsável pela elaboração da nova Constituição do país.
Mas analistas preveem que os grupos islâmicos, incluindo Irmandade e salafistas, deverão ganhar uma parcela significativa de cadeiras. "As massas mais pobres e alguns da classe média deverão eleger candidatos mais identificados com a doutrina islâmica", salientou Noor. "Ninguém sabe como se comportarão seus candidatos no Parlamento - se aliados ou opositores", completou ele.
Portal de Notícias Terra

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