Como funciona um derivativo
Sim, mas afinal o que é um derivativo?
Pois muitas vezes neste blog falámos disso. E a crise actual, começada em 2008 (subprimes, lembram?), despoletou mesmo por causa dos derivativos.
Reparo: o assunto dos derivativos é complexo e, com o fim de simplifica-lo ao máximo, não vamos tratar de um tema estreitamente ligado aos derivativos, o leverage ou alavancagem financeira, que fica para um próximo artigo.
Os "produtos derivativos", ou simplesmente "derivativos", são instrumentos financeiros que, com diz a mesma palavra, "derivam" de outra coisa.
Por exemplo: uma acção, uma obrigação, um Título de Estado são produtos completos, existem independentemente de outros factores.
Os derivativos não: para existir é preciso outro produto.
No geral, são instrumentos com os quais uma parte (o investidor) decide ter o direito de comprar um determinado bem (ou actividade) no futuro com um preço estabelecido agora.
Para explicar ainda melhor é bem observar como nasceram.
Em meados de 1700, os agricultores dos Estados Unidos levavam os próprios produtos ao mercado e ai tentavam vende-los. Mas não sabiam a qual preço antes de começar as contratações.
Mau tempo, poucos produtos? Os preços de venda eram mais altos. O agricultor ficava feliz, o cliente muito menos.
Bom tempo, muitos produtos? Os preços de venda caíam, o agricultor ficava irritado, o cliente feliz.
Mas era uma incógnita.
Então alguns começaram a estipular um particular tipo de contrato: com este, o agricultor empenhava-se a entregar uma determinada quantia de produtos (batatas, por exemplo), o cliente empenhava-se a pagar um preço pre-estabelecido.
Vantagens:
- o agricultor estava certo de ter um cliente que ia pagar um preço satisfatório.
- o cliente estava certo de receber uma determinada quantia de batatas com um preço satisfatório.
Tinha nascido o primeiro derivativo, o forward contract. Derivativo porque a sua existência baseia-se num outro produto, neste caso as batatas.
Os Warrant são são um bom exemplo de derivativos.
São opções de longo termo, emitidos por uma sociedade, e dão direito de adquirir acções com um preço e um termo pre-estabelecidos.
Exemplo:
João compra 10.000 warrant da empresa Informação Incorrecta SA com o preço pre-fixado de 0,52 €; o custo do warrant é 0,10 por cada acção
O preço actual de cada acção é de 0,3627 €. A data de aquisição é 30 de Março de 2011.
Que significa isso?
Significa que João compra o direito de adquiri no futuro as acções de Informação Incorrecta ao preço de 0,52 €.
Este direito custa 0,10 € por cada acção.
Em vez de comprar agora 10.000 acções (o que custaria 10.000 x 0,3627 = 3.627 €), João a possibilidade de adquirir estas acções mais tarde, com um preço pre-estabelecido (0,52 €).
Mas as acções de Informação Incorrecta não valem agora 0,3627 €? João está doente?
Não: João está convencido de que no futuro (isso é, no dia 30 de Março de 2011) as acções da empresa irão subir de forma significativa, acima do valor actual (0,3627 €) e acima do preço pre-estabelecido (0,52 €).
Agora temos três possibilidades:
1. No dia 30 de Março de 2011 as acções de Informação Incorrecta ultrapassam o valor de 0,62 €. João adquire as acções pelo preço pre-fixado de 0,52 € e recupera quanto tinha gasto com os warrants (0,10 €). João está satisfeito e fala muito bem de Informação Incorrecta com os amigos e a família.
2. No dia 30 de Março de 2011 as acções de Informação Incorrecta sobem mas não ultrapassam 0,62 €. João fica enervado: para poder ganhar alguma coisa, as acções têm que ultrapassar o preço estabelecido (0,52 €) mais o custo dos warrants (0,10 € por cada acção). Não perdeu tudo, mas alguma coisa sim (o custo dos warrants).
João não fica satisfeito e diz que Informação Incorrecta não presta.
3. No dia 30 de Março de 2011 as acções de Informação Incorrecta não valem mais de 0,52 €.
João fica histérico, perdeu todo o dinheiro e quer encontrar o dono de Informação Incorrecta para pedir-lhe o dinheiro. O que é muito mau.
O caso do warrant, como afirmado, bem mostra o que é um produto derivativo. Um última análise, é uma aposta: eu, cliente, aposto que no futuro determinadas condições serão criadas para que eu possa ganhar.
Existem muitos outros derivativos. Aliás, um das tarefas que absorvem a energia de quem trabalha na Finança é encontrar cada vez mais novos tipos de derivativos.
Future, Swap, Options são todos derivativos, isso é, instrumentos financeiros e são os mais comuns.
O conceito em si, como vimos, não é novo pois existiam já no século XVIII.
Os problemas nascem quando a ideia é levada ao extremo e implica um risco muito elevado.
Quando um banco empresta dinheiro porque um investidor acredita numa empresa que ainda não existe e num produto que agora não passa dum projecto, eis que começam os verdadeiros problemas. Porque o banco, na verdade, não tem dinheiro e utiliza o dos clientes.
Se o investimento for limitado, tudo bem. Mas se for elevado?
Se o investidor não conseguir devolver o montante emprestado?
Resposta: Outono de 2008, crise dos subprimes.
E estes é apenas um caso, pois a realidade é muito mais complexa neste sentido; não podemos esquecer a natureza dos derivativos, que são produtos financeiros e, tal como todos os produtos, servem para criar dinheiro.
Por exemplo: há quem ganhe uma percentagem na venda dos derivativos. Então o cliente-investidor será bem informado acerca dos reais riscos dos derivativos? Haverá responsabilidade na venda e na compra destes produtos?
Resposta: ainda uma vez Outono de 2008, crise dos subprimes.
Ipse dixit.
Pois muitas vezes neste blog falámos disso. E a crise actual, começada em 2008 (subprimes, lembram?), despoletou mesmo por causa dos derivativos.
Reparo: o assunto dos derivativos é complexo e, com o fim de simplifica-lo ao máximo, não vamos tratar de um tema estreitamente ligado aos derivativos, o leverage ou alavancagem financeira, que fica para um próximo artigo.
Os produtos derivativos derivam
Os "produtos derivativos", ou simplesmente "derivativos", são instrumentos financeiros que, com diz a mesma palavra, "derivam" de outra coisa.
Por exemplo: uma acção, uma obrigação, um Título de Estado são produtos completos, existem independentemente de outros factores.
Os derivativos não: para existir é preciso outro produto.
No geral, são instrumentos com os quais uma parte (o investidor) decide ter o direito de comprar um determinado bem (ou actividade) no futuro com um preço estabelecido agora.
Para explicar ainda melhor é bem observar como nasceram.
O nascimento
Em meados de 1700, os agricultores dos Estados Unidos levavam os próprios produtos ao mercado e ai tentavam vende-los. Mas não sabiam a qual preço antes de começar as contratações.
Mau tempo, poucos produtos? Os preços de venda eram mais altos. O agricultor ficava feliz, o cliente muito menos.
Bom tempo, muitos produtos? Os preços de venda caíam, o agricultor ficava irritado, o cliente feliz.
Mas era uma incógnita.
Então alguns começaram a estipular um particular tipo de contrato: com este, o agricultor empenhava-se a entregar uma determinada quantia de produtos (batatas, por exemplo), o cliente empenhava-se a pagar um preço pre-estabelecido.
Vantagens:
- o agricultor estava certo de ter um cliente que ia pagar um preço satisfatório.
- o cliente estava certo de receber uma determinada quantia de batatas com um preço satisfatório.
Tinha nascido o primeiro derivativo, o forward contract. Derivativo porque a sua existência baseia-se num outro produto, neste caso as batatas.
Os Warrants
Os Warrant são são um bom exemplo de derivativos.
São opções de longo termo, emitidos por uma sociedade, e dão direito de adquirir acções com um preço e um termo pre-estabelecidos.
Exemplo:
João compra 10.000 warrant da empresa Informação Incorrecta SA com o preço pre-fixado de 0,52 €; o custo do warrant é 0,10 por cada acção
O preço actual de cada acção é de 0,3627 €. A data de aquisição é 30 de Março de 2011.
Que significa isso?
Significa que João compra o direito de adquiri no futuro as acções de Informação Incorrecta ao preço de 0,52 €.
Este direito custa 0,10 € por cada acção.
Em vez de comprar agora 10.000 acções (o que custaria 10.000 x 0,3627 = 3.627 €), João a possibilidade de adquirir estas acções mais tarde, com um preço pre-estabelecido (0,52 €).
Mas as acções de Informação Incorrecta não valem agora 0,3627 €? João está doente?
Não: João está convencido de que no futuro (isso é, no dia 30 de Março de 2011) as acções da empresa irão subir de forma significativa, acima do valor actual (0,3627 €) e acima do preço pre-estabelecido (0,52 €).
Agora temos três possibilidades:
1. No dia 30 de Março de 2011 as acções de Informação Incorrecta ultrapassam o valor de 0,62 €. João adquire as acções pelo preço pre-fixado de 0,52 € e recupera quanto tinha gasto com os warrants (0,10 €). João está satisfeito e fala muito bem de Informação Incorrecta com os amigos e a família.
2. No dia 30 de Março de 2011 as acções de Informação Incorrecta sobem mas não ultrapassam 0,62 €. João fica enervado: para poder ganhar alguma coisa, as acções têm que ultrapassar o preço estabelecido (0,52 €) mais o custo dos warrants (0,10 € por cada acção). Não perdeu tudo, mas alguma coisa sim (o custo dos warrants).
João não fica satisfeito e diz que Informação Incorrecta não presta.
3. No dia 30 de Março de 2011 as acções de Informação Incorrecta não valem mais de 0,52 €.
João fica histérico, perdeu todo o dinheiro e quer encontrar o dono de Informação Incorrecta para pedir-lhe o dinheiro. O que é muito mau.
Bons ou maus?
O caso do warrant, como afirmado, bem mostra o que é um produto derivativo. Um última análise, é uma aposta: eu, cliente, aposto que no futuro determinadas condições serão criadas para que eu possa ganhar.
Existem muitos outros derivativos. Aliás, um das tarefas que absorvem a energia de quem trabalha na Finança é encontrar cada vez mais novos tipos de derivativos.
Future, Swap, Options são todos derivativos, isso é, instrumentos financeiros e são os mais comuns.
O conceito em si, como vimos, não é novo pois existiam já no século XVIII.
Os problemas nascem quando a ideia é levada ao extremo e implica um risco muito elevado.
Quando um banco empresta dinheiro porque um investidor acredita numa empresa que ainda não existe e num produto que agora não passa dum projecto, eis que começam os verdadeiros problemas. Porque o banco, na verdade, não tem dinheiro e utiliza o dos clientes.
Se o investimento for limitado, tudo bem. Mas se for elevado?
Se o investidor não conseguir devolver o montante emprestado?
Resposta: Outono de 2008, crise dos subprimes.
E estes é apenas um caso, pois a realidade é muito mais complexa neste sentido; não podemos esquecer a natureza dos derivativos, que são produtos financeiros e, tal como todos os produtos, servem para criar dinheiro.
Por exemplo: há quem ganhe uma percentagem na venda dos derivativos. Então o cliente-investidor será bem informado acerca dos reais riscos dos derivativos? Haverá responsabilidade na venda e na compra destes produtos?
Resposta: ainda uma vez Outono de 2008, crise dos subprimes.
Ipse dixit.
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