“Na Grécia, ao contrário, quem paga  a crise são os trabalhadores de salário mínimo, a ser reduzido, e os  aposentados, cujos vencimentos serão cortados. Os bancos só cedem anéis  para poderem manter os dedos gordos, ainda mais engordados pelos juros  obscenos que cobram para rolar a parte da dívida grega que não será  reestruturada”, escreve  Clóvis Rossi, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 12-02-2012.
Segundo o jornalista, “ditadura – ainda mais ditadura de mercado – é assim”.
Eis o artigo.
A União Europeia está dando mais um aperto na ditadura que impôs à Grécia. Para quem não se lembra, foi a UEquem derrubou George Papandreou, o primeiro-ministro legítimo, eleito fazia dois anos, para colocar em seu lugar o tecnocrata Lucas Papademos, sem passar pelo indispensável escrutínio das urnas.
O interventor nomeado faz tudo o que pede a troica UE/Banco Central Europeu/FMI, os ditadores de plantão. Não adianta nada.
É só conferir os números:
1- A  dívida grega saltou para 159,1% do PIB, no terceiro trimestre de 2011,  20 pontos percentuais a mais que um ano antes, quando os ajustes  impostos pelos europeus já estavam em curso; 
2- A economia  grega retrocedeu 5,5% em 2011 e uma nova contração é inevitável neste  ano. Com a economia recuando, ninguém consegue pagar suas dívidas; 
3- O desemprego  já está em 20,9%, só atrás da Espanha na Europa. E só pode aumentar  porque uma fatia do novo plano de ajuste exige a demissão de mais 150  mil funcionários públicos até 2015.
Mas a Europa não olha para os  fatos e prefere apertar mais a ditadura, ao exigir que o Parlamento  grego aprove o novo programa de austeridade, embora seja uma Câmara  “pata manca” (as eleições para renová-la estão marcadas para abril).  Ora, é elementar na democracia que um programa que afeta a vida do país  anos à frente seja votado por um Parlamento renovado, não por um em fim  de mandato.
Primeiro, consumir é a música que  mais toca no capitalismo. Logo, os gregos só fizeram o que é de praxe no  sistema hegemônico. Segundo, tomaram empréstimos não porque tenham  assaltado os bancos, mas sim porque os bancos os ofereceram sem olhar  responsavelmente para a capacidade do tomador de devolvê-los algum dia.
Vejamos agora como funcionam as coisas em uma democracia: nos EUA,  os bancos também foram irresponsáveis na concessão de créditos  hipotecários (as famosas “subprime”, origem da grande crise de 2008/09).  Abusaram também na execução das hipotecas, quando o tomador não  conseguia pagar.
O que fez o governo? Forçou uma  negociação pela qual os bancos terão que pagar US$ 26 bilhões para  aliviar o drama de 2 milhões de pessoas que ou já perderam suas casas ou  estão na iminência de perdê-las porque não conseguem pagar as  hipotecas. Ou, posto de outra forma: protegeu-se quem menos pode, e  puniu-se quem mais pode.
Na Grécia, ao  contrário, quem paga a crise são os trabalhadores de salário mínimo, a  ser reduzido, e os aposentados, cujos vencimentos serão cortados. Os  bancos só cedem anéis para poderem manter os dedos gordos, ainda mais  engordados pelos juros obscenos que cobram para rolar a parte da dívida  grega que não será reestruturada.
Ditadura – ainda mais ditadura de mercado – é assim.
FT.Net 
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