sábado, 18 de fevereiro de 2012 | 16:10
Brian M Downing (Asia Times Online)
         
O respeitado analista de política internacional Trita Parsi, em seu  novo livro (“A Single Roll of the Dice: Obama’s Diplomacy with Iran”, ou  “Um único lance de dados: a diplomacia de Obama para o Irã”), traça  perfis de políticos israelenses, construídos a partir de entrevistas  pessoais e declarações públicas. Para Parsi, algumas figuras da política  israelense são mais complexas do que os pintam os porta-vozes e  políticos dos dois lados do Atlântico.
Importante para registrar: Parsi duvida que o Irã algum dia ataque  Israel com arma nuclear. Os aiatolás, segundo o ministro da Defesa e  soldado altamente condecorado Ehud Barak, são atores políticos  pragmáticos que sabem que operam no cenário mundial, e nada têm de  ‘mulás doidos’.
É discurso que não coincide com o que se lê e ouve, com israelenses  sempre clamando por ação, apresentando os clérigos iranianos como  fanáticos interessados em apressar o fim do mundo e a volta do Imã. Para  Barak, os aiatolás sabem que ataque nuclear a Israel não beneficiaria o  Irã e, em qualquer circunstância, levaria ao contra-ataque, imediato e  devastador.
O que mais preocupa os estrategistas israelenses é a certeza de que  um Irã nuclear provocaria grave dano à imagem de Israel como estado já  plenamente implantado e invencível; fortaleceria a posição dos políticos  e militantes palestinos e, na conclusão, obrigaria Israel a conceder um  acordo de convivência que exigiria a devolução de territórios. Parsi – o  que é lamentável – não comenta nem avalia esse raciocínio.
Parsi cita o famoso comentário do ex-chefe do Mossad, Meir Dagan, ano  passado, para o qual a possibilidade de Israel atacar instalações  nucleares iranianas seria “a ideia mais estúpida que já ouvi”. Dagan crê  que ataque desse tipo levaria a conflagração regional de tal ordem que  geraria “desafio de segurança que não haveria como enfrentar”. Opiniões  de Dagan – suspeito de estar no comando da campanha de assassinatos de  cientistas e atentados à bomba que têm ocorrido em território iraniano –  não podem ser tomadas como palpite de ativistas da paz.
As ameaças dos israelenses de atacar ‘unilateralmente’ o Irã visam a  forçar os EUA a aprofundar as sanções, por mais que a ideia de atacar o  Irã agrade a alguns dos israelenses entrevistados: para esses, as  sanções podem, no máximo, tornar um pouco mais lento o ritmo dos avanços  iranianos no programa atômico; ataques aéreos podem forçar retrocesso  bem mais significativo.
Mas os estrategistas israelenses consideram a possibilidade de  fracasso. No caso de nem sanções nem ataques funcionarem, o Irã deve  servir como caso exemplar para outros países que venham a considerar a  possibilidade de construir armas nucleares. Construir ou mesmo tentar  construir armas nucleares é movimento que sempre custará sanções  terríveis, que engessarão a nação por tempo indefinido.
Mas – fontes israelenses lembram, cautelosamente –, usar o Irã como  exemplo para intimidar outros países que tentem arriscar-se na via do  armamento nuclear pode custar preço muito alto: debilitaria muito  qualquer iniciativa de reforma democrática; geraria um estado falido  entre o Golfo Persa e o AfPak; e, afinal, geraria um país armado com  armas nucleares, ferido e em busca de vingança.
O que fazer? Na opinião de Trita Parsi, haverá longo período de  contenção – que é alternativa à guerra –, gravemente minado por riscos  de as tensões aumentarem e de acontecerem atos acidentais de  hostilidade. O autor propõe que se inicie nova rodada de iniciativas  diplomáticas; sanções menos drásticas; projeto de longo prazo para a  relação entre EUA e Irã; objetivos mais claros e mais bem definidos,  para as negociações; e que se busquem mediadores influentes, como a  Turquia.
Mas muitos leitores não verão claramente que tipo de acordo seria  possível, para a questão nuclear, agora ou algum dia, que não implique  os EUA e Israel aceitarem os objetivos nucleares do Irã. Muitos temerão  que a pesquisa iraniana e a impaciência israelense não nos deixem tempo  para um segundo lance de dados.
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