Em 14.12.2012, 20:23, hora de Moscou
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A dissuasão nuclear não pode servir da garantia absoluta contra novas guerras, salvaguardando a paz e prevenindo a guerra entre as grandes potências. Qual será o papel do fator nuclear na história contemporânea?
A impossibilidade de rechaçar um
eventual golpe nuclear, por um lado, e a sua enorme força destruidora,
por outro, fazem das armas nucleares um meio incontestável, cuja
eficácia, contudo, pode ser posta em causa.
Um
fator-chave da dissuasão nuclear não passa pela existência de uma carga
superpotente mas antes pelo simples fato de um país ser possuidor de
armas atômicas. A diferença entre uma bomba atômica levada por um
bombardeiro e uma ogiva nuclear de um míssil balístico é simples: um
ataque maciço de bombardeiros pode ser repelido, ao contrário de um
golpe de mísseis balísticos intercontinentais.
O ceticismo nuclear se resume, no essencial, a dois postulados. O
primeiro se refere à história da Segunda Guerra Mundial, quando os
arsenais de armas químicas não desempenharam, em última análise, um
papel de fator de dissuasão. O segundo postulado assenta no facto de a
potência da carga nuclear não ter grande importância: a Humanidade
aprendeu a demolir cidades sem o emprego da bomba atômica, mas isso não a
salvou de guerras destruidoras.
Todavia,
ambos os postulados baseiam-se em princípios errados. A arma nuclear tem
a referência formal aos arsenais de armas químicas, que são igualmente
classificadas como meios de extermínio em massa. A maior diferença passa
pela capacidade de destruição e o período de ação. Durante os
preparativos para a guerra química era muito duvidoso um efeito provável
do emprego destas armas que, ainda por cima, pudesse causar uma
resistência ainda maior da parte do adversário.
Entretanto,
o principal fator destruidor da explosão nuclear não é a radiação e a
consequente contaminação do terreno. As novas gerações de armas atômicas
se destacam pela "pureza" cada vez maior. A maior parte das destruições
causadas pela explosão nuclear é provocada pela onda de choque. Os
cálculos relativos ao equivalente em TNT não adiantam quase nada - os
enormes danos infligidos a Dresden e a Tóquio deveram-se ao emprego de
uma quantidade de munições relativamente pequena - 2 000 toneladas. Mas o
número de vitimas era equiparável às perdas humanas na sequência de
bombardeamentos das cidade nipônicas de Hiroshima e Nagasaki. Todavia,
as primeiras munições nucleares, com a potência de quase 15 Kt, nem
sequer podem ser comparadas ao atual arsenal em posse das
superpotências, baseado em blocos de combate com a potência igual a
centenas de Kt.
Falando das consequências do emprego
de armas atômicas, convém ter em conta o seu caráter súbito e
inesperado. Os intervalos entre as incursões aéreas durante a Segunda
Guerra Mundial deixavam margens de manobra, permitindo compensar em
parte os prejuízos sofridos. Mas um golpe súbito com o emprego de
centenas de munições atômicas potentes, cada uma das quais supera em
dezenas de vezes os resultados dos maiores raides aéreos da Segunda Guerra Mundial, terá um enorme efeito demolidor, impossível de compensar.
No
período de "guerra fria" supunha-se que para infligir derrota militar à
URSS e causar a sua desintegração fossem necessárias 300 cargas de
primeira geração, com a potência de 10 a 30 Kt. No entanto, o número
insuficiente de tais munições tornava primeiro impossível tal golpe,
enquanto as potencialidades dos caças soviéticos demonstradas na Coréia,
acabaram por persuadir os EUA de ser extremamente baixa a probabilidade
de atingirem êxitos por meio de bombardeiros convencionais.
A
entrada em serviço dos primeiros mísseis nucleares nos EUA coincidiu
com a invenção de tais armamentos na URSS. A crise caribenha (também
conhecida como a crise dos mísseis de Cuba) veio gerar uma nova
realidade. O Presidente Kennedy estava ciente de que os EUA poderiam
aniquilar a União Soviética. Mas até um golpe de retaliação soviético
menos potente poderia igualmente liquidar dezenas de milhões dos
cidadãos norte-americanos. A impossibilidade de alcançar vitória na
guerra nuclear, compreendida muito bem naquela altura, passou a
constituir a base para a coexistência pacífica entre a URSS e os EUA.
Tal
situação se mantém até hoje. Por mais avançado que seja o país, tanto
maior será prejuízo resultante de um ataque nuclear. A compreensão da
eficácia da dissuasão nuclear serve de melhor garantia da paz entre as
superpotências que, contudo, desejam aperfeiçoar os meios de proteção
disponíveis. O maior perigo decorrente da DAM não consiste em este ter
chances reais de interceptar os mísseis, mas, antes de mais, no efeito
psicológico. A sobrestima das suas potencialidades levou por diversas
vezes à tomada de medidas aventureiras, susceptíveis a conseqüências
nefastas, em que os culpados não serão julgados na ausência de árbitros.
A
potência das armas atômicas e conseqüências do seu uso seriam, talvez,
um argumento mais sólido a favor da renúncia à dissuasão nuclear,
sobretudo, sob o pano de fundo de numerosas guerras locais. No entanto, o
fator nuclear continua a dominar as mentalidades. Resta esperar que,
num belo dia, a Humanidade invente um modo de preservar a paz universal
muito mais eficiente do que a iminente ameaça de autodestruição.
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