O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, defendeu nesta segunda-feira o líder do Irã, Mahmud Ahmadinejad, seu aliado próximo, em meio ao aumento das tensões com os EUA por causa do programa nuclear iraniano e de uma sentença de morte contra um americano condenado sob acusação de trabalhar para a CIA (Agência de Inteligência dos EUA).
- Leia também: Presidente do Irã dá início a giro pela América Latina
Foto: Reuters
Os presidentes do Irã, Mahmud Ahmadinejad, e da Venezuela, Hugo Chávez, reúnem-se no Palácio de Miraflores, em Caracas
De acordo com a rádio estatal do país persa, uma corte de Teerã condenou o americano de origem iraniana Amir Mirzaei Hekmati, um ex-marine (fuzileiro naval) que recebeu treinamento especial e serviu em bases americanas no Iraque e no Afeganistão, por colaborar com um país hostil, pertencer à CIA e tentar acusar o Irã de envolvimento em terrorismo. Ele tem 20 dias para recorrer da decisão.
Nesta segunda-feira, diplomatas e a Agência Internacional de Energia Atômica confirmaram um relatório de que o Irã começou a enriquecer urânio em um bunker subterrâneo na instalação de Fordo, perto da cidade sagrada xiita de Qom, uma medida que aumenta os temores entre as autoridades americanas e europeias sobre as ambições nucleares do Irã.
Os dois líderes se reuniram em Caracas na primeira fase de um giro por quatro países que também levará Ahmadinejad para a Nicarágua, Cuba e Equador. "Eles nos apresentam como agressores", disse Chávez sobre as autoridades americanas enquanto recebia o presidente iraniano no palácio presidencial. "O Irã não invadiu ninguém", disse o líder venezuelano. "Quem lançou milhares e milhares de bombas... incluindo bombas nucleares?", indagou em referência aos EUA.
A visita acontece depois de os EUA terem imposto sanções mais duras contra o Irã por seu programa atômico, que Washington acredita ter objetivos militares. Chávez e seus aliados defendem o Irã com o argumento de que o programa tem apenas propósitos pacíficos.
Ambos líderes brincaram com a ideia de que sua relação possa ser motivo de preocupação. Ahmadinejad disse que se estivessem construindo juntos qualquer coisa como uma bomba, "o combustível dessa bomba é o amor".
"Sempre estaremos juntos", disse Ahmadinejad por meio de um intérprete. Sorrindo enquanto colocava sua mão no braço de Chávez, o líder iraniano chamou o presidente venezuelano de "campeão no combate ao imperialismo".
O Irã encontra-se cada vez mais sob uma pressão crescente no impasse sobre seu programa nuclear e, em resposta às últimas sanções americanas, ameaçou bloquear o Estreito de Ormuz, uma importante rota marítima para os carregamentos de petróleo.
O confronto de longa data de Chávez com Washington também parece pronto para aumentar depois que o Departamento de Estado dos EUA anunciou, poucas horas antes da chegada de Ahmadinejad, que estava expulsando a cônsul-geral da Venezuela em Miami, Livia Acosta Noguera, por alegações de que ela discutiu um possível ciberataque contra o governo americano.
Aliviar a pressão
Segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil, o objetivo do giro latino-americano de Ahmadinejad é "aliviar" os efeitos das sanções econômicas ocidentais sobre o país e evitar um isolamento internacional ainda maior.
Para Mahjoob Zweiri, especialista em Oriente Médio e Irã da Universidade do Catar, a viagem é "essencialmente uma tentativa de mostrar aos iranianos que o país não está isolado e possui amigos dentro da comunidade internacional".
Foto: AP
Imagem da TV iraniana mostra Amir Mirzaei Hekmati, condenado à morte por espionagem (27/12/11)
Além disso, segundo Zweiri, o governo iraniano tenta incrementar negócios com países mais "amigos", já que Teerã enfrenta problemas econômicos, agravados pelas sanções impostas pelos EUA e outros países ocidentais por conta do programa nuclear iraniano.
"As exportações diminuíram, a inflação aumenta e a moeda iraniana vem perdendo valor. Medidas econômicas internas se mostraram impopulares, e Ahmadinejad já é vaiado por alguns setores da população. Os iranianos sentem-se mais isolados no mundo do que nunca."
O Brasil não está na agenda de visitas do iraniano. A assessoria de imprensa do Itamaraty afirmou que o governo brasileiro não foi procurado por Teerã para agendar a visita, mas que as relações entre os dois países seguem normais. Segundo a mídia estatal iraniana, o objetivo da viagem é "fortalecer os laços com os países latinos que mantêm um discurso hostil em relação aos EUA".
Negócios e amigos
De acordo com Amani Maged, analista político e colunista do semanário egípcio Al-Ahram, o Irã precisa incrementar desesperadamente seu fluxo de negócios estrangeiros e mostrar à sua população que as sanções e isolamento internacionais não afetarão a insistência do país em seu programa nuclear. "A América Latina é um dos continentes onde o Irã ainda tem amigos e governos abertos a negócios", disse.
Em seu giro latino-americano, o presidente do Irã está acompanhado por uma comitiva de cerca de cem empresários, além dos ministros de Relações Exteriores, da Economia, da Indústria, Comércio e Minas e o de Energia.
Foto: AP
Foto de satélite de 26/9/2009 divulgada pelo GeoEye mostra instalação de Fordo sob construção dentro de montanha perto de Qom, Irã
Desde que se tornou presidente, em 2005, Ahmadinejad aumentou os laços do Irã com países latino-americanos, incluindo o Brasil. Seu governo assinou diversos acordos de cooperação civil e militar com Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua.
Para o egípcio Amani Maged, a estratégia diplomática iraniana não pode ser subestimada. "Laços com países latino-americanos também servem para seus interesses diplomáticos."
"Países latino-americanos se tornam ocasionalmente membros não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU, onde (são votadas) muitas das sanções impostas ao Irã. Cortejar amigos na América Latina com certeza é bom para os negócios, sejam eles comerciais ou diplomáticos", disse.
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