O assassinato de mais um cientista nuclear do Irã, eventualmente, obrigará o governo de Teerã a promover represálias, segundo avaliam cientistas políticos do Ocidente e do Mundo Árabe Muçulmano. E talvez, finalmente, o desafio do Irã seja sua obrigação de promover alguma ação de certa forma que, o exponha internacionalmente. Este é o alvo dos estrategistas ocidentais inspiradores desta operação.
O professor doutor Mustafá Ahmadi Rosan foi assassinado, alvo de uma bomba que explodiu em Teerã. Testemunhas oculares viram dois motociclistas que colaram no automóvel de Rosan uma bomba com mecanismo magnético e, em seguida, desapareceram antes de a bomba explodir.
Foi uma atentado com fortes indícios de práticas de serviços secretos, considerando que tratava-se de um artefato de última tecnologia, cujo alvo era assassinar uma ou duas pessoas, sem que o barulho de sua explosão fosse ouvido a grande distância.
Em janeiro do ano passado, uma bomba acionada a distância matou o professor doutor de Física Nuclear na Universidade de Teerã Masoud Alí Mohammadi. E no final do mesmo ano, mais um cientista nuclear foi assassinado por atentado a bomba, enquanto, em julho do ano passado, foi assassinado o cientista físico Darious Rezai. Ele foi atacado a tiros por desconhecidos em Teerã. Até agora, nenhuma organização assumiu a responsabilidade por todos estes atentados.
No Curdistão
Mas não foram somente estes atentados. Uma série de igualmente enigmáticas ações foram executadas contra instalações militares iranianas ano passado e 17 pessoas perderam a vida por causa de uma explosão no campo dos Guardas da Revolução, enquanto apenas no mês anterior uma explosão de bomba causou sérios prejuízos em instalações de enriquecimento de urânio em Ispahan. E não faltaram, também, invasores em sistemas de informática, assim como sua contaminação por vírus desconhecidos.
Em todos estes casos, o Irã acusou os serviços secretos de Israel e dos EUA. Poderiam os inspiradores da guerra contra o terrorismo recorrer, tão cruamente, ao terrorismo? O jornal francês Le Figaro não hesitou em "dar nomes aos bois", registrando que "os EUA e Israel executaram várias ações de atentados em instalações nucleares, ordenando, simultaneamente, os assassinatos planejados de cientistas nucleares iranianos".
O Figaro até invocou declarações de autoridades iranianas dos setores de segurança, que sustentam que o serviço secreto israelense Mossad transformou em quartel-general de suas ações a autônoma região do Curdistão iraquiano.
Atos de provocação
Contudo, qual poderá ser o sentido desta campanha de terrorismo com alvo os cientistas nucleares iranianos? Será que o programa nuclear iraniano é tão personalizado, a ponto de poder ser destruído com a eliminação física de determinados cientistas nucleares iranianos? E, finalmente, os serviços secretos iranianos são tão incapazes a ponto de não terem condições de proteger as verdadeiras pessoas-chaves para o sucesso do programa nuclear do país?
O alvo dos assassinatos poderá, eventualmente, ser totalmente diferente, de acordo com a revista norte-americana Atlantic: obrigar o governo de Teerã a promover alguma espécie de represália contra Israel, evolução que, finalmente, daria o motivo para ataque militar contra o Irã. Israel poderia, naturalmente, atacar primeiro, invocando - por uma vez mais - sua autoproteção, mas a estratégia da escalada garante uma série de vantagens.
Israel não poderá ser acusado de que iniciou a guerra, de acordo com a conhecida tática de dois pesos e duas medidas: um ataque caracteriza-se terrorista se o autor, e não a vítima, é o Irã.
Brincar com fogo
Contudo, a vantagem básica é que uma guerra que seria iniciada desta forma teria maiores possibilidades de arrastar, também, os EUA. E, de acordo com a revista Atlantic, a liderança militar israelense considera que a Força Aérea dos EUA deve assumir o principal peso e responsabilidade dos bombardeios da instalações nucleares iranianas, considerando que os EUA têm a possibilidade de desferir "golpes de profunda penetração", possibilidade esta que o Israel não dispõe hoje.
"Se Israel iniciasse, repentinamente, os ataques contra o Irã, no momento em que os EUA estão examinando a possibilidade de mais uma saída diplomática, não poderia apostar no apoio norte-americano. Mas os EUA assumiriam, imediatamente, a defesa de Israel, se este estivesse envolvido em escalada de guerra com o Irã, a qual teria sido iniciada pelo governo de Teerã", avalia a Atlantic.
A obrigação do Irã de promover represálias deverá minar, se não destruir, definitivamente, todas as esperanças por uma solução diplomática, resultando, em consequência, ou em um maior isolamento do Irã, ou na mais perigosa guerra da multiconvulsionada história do Grande Oriente Médio. Muitos hesitariam em brincar com o fogo neste caso. Menos o atual primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
Fonte: Outro lado da Notícia
Situação agrava-se no Golfo Pérsico
Arábia Saudita assegura suficiência de petróleo
Nicósia (República de Chipre) - Suas fortes dúvidas de que a Marinha de Guerra iraniana reúne condições para bloquear, por longo tempo, o Estreito de Ormuz, manifestou novamente a liderança da Arábia Saudita. Ainda, manifestou o ponto de vista de que, provavelmente, trata-se de "hipérboles para criar impressões", e tornou claro que a própria Arábia Saudita está em condição de aumentar sua produção de petróleo e cobrir quaisquer necessidades que surgirem em decorrência de uma tal ação do Irã.
Estas garantias do governo de Riad surgiram assim que o Ministério de Relações Exteriores do Irã anunciou ter recebido, por intermédio de canal diplomático da Organização das Nações Unidas (ONU), uma carta dos EUA abordando a questão do bloqueio do Estreito de Ormuz. O anúncio não esclareceu qual é, exatamente, o conteúdo total da carta norte-americana, mas, concluiu que será devidamente estudada e, se precisar de resposta, esta será dada.
Enquanto, os espíritos permanecem extremamente exaltados no Golfo Pérsico, divulgou-se que os exercícios aeronavais conjuntos entre EUA e Israel programados para a primavera, que seriam provavelmente estendidos também à região de Ormuz, foram postergados para o final deste ano. De acordo com os vazamentos, confirmados, não foi tomada ainda decisão definitiva, mas o motivo do adiamento foram "problemas de orçamento".
Apesar disso, Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, não reduziu o tom: repetiu que "no Irã deverão ser impostas sanções verdadeiramente duras para se evitar a ameaça nuclear".
Entretanto, o fato é que, antes ainda de serem impostas as novas duras sanções pelos EUA e a União Européia (UE) contra o Irã, já existem sérias divergências a respeito. A China manifestou veementemente grande oposição com relação a sanções que serão impostas contra a empresa estatal chinesa Zhuhai Zhenrong por vender gasolina ao Irã. Alta autoridade do governo chinês destacou que "é paralogismo empresas chinesas serem punidas com base a leis norte-americanas fora dos EUA".
E tudo isso bem antes da imposição de sanções mais duras, que incluem bloqueio das exportações iranianas de petróleo (decisão final da UE será tomada nesta segunda-feira) e congelamento de ativos patrimoniais de qualquer país, empresa ou pessoa física que transacionar com o Banco Central do Irã.
Além do bloqueio
Até que ponto o Irã teme a decretação de bloqueio, por parte do Ocidente, em suas exportações de petróleo, e até que ponto pode recrudescer sua reação? A resposta não é fácil, mas o aspecto que é rigorosamente certo é que a posição do governo de Teerã será influenciada decisivamente pelo temor e a incerteza da liderança religiosa e política para a salvaguarda dos apoios no Grande Oriente Médio.
Com os fundamentos atuais, uma mudança de regime na Síria - que não se limitaria à substituição de Assad, mas terminaria o predomínio da minoria dos alaouitas em benefício da maioria dos sunitas - detonaria com violência a aliança entre Teerã e Damasco, por intermédio da qual o Irã controla o Hezbollah no Líbano e influencia o Hamas na Faixa de Gaza.
Um regime sunita na Síria constituiria apoio de importância estratégica para os sunitas do Iraque, porque lhes permitiria recusar o papel de minoria dentro de um Estado xiita. Assim, o caso dos alaouitas na Síria resulta na limitação da primazia dos xiitas no Iraque, constituindo-se em golpe duplo contra o governo de Teerã.
Teerã no cenário central
Uma complicação adicional para o Irã é a certeza de que o governo da Turquia apoiará a implantação de regime sunita na Síria, assim como, a promoção dos sunitas no Iraque como força política dividindo o governo com a maioria xiita e tendo como opositor a Arábia Saudita.
No que diz respeito ao Hamas na Faixa de Gaza, a dinâmica de seu desatrelamento do Irã já encontra-se em plena evolução, tanto com a atividade legal da organização dos Irmãos Muçulmanos no Egito, quanto, também, com reivindicação de papel periférico pela Turquia.
Seja lá como for, a aliança do sunita Hamas com o radical Islã xiita de Teerã era conjuntural e decisiva pelo isolamento da Faixa de Gaza, tanto por Israel, quanto pelo regime Mubarak, do Egito.
Com estas evoluções, o Irã constatará que está sendo desvalorizada uma arma muito além de sua capacidade de fabricar em futuro próximo armas nucleares ou bloquear hoje o Estreito de Ormuz, fechando a mais importante passagem para o abastecimento energético da Europa.
A possibilidade atual de sua aliança com a Síria está afetando as evoluções no Líbano e na Faixa de Gaza, que definiram Teerã como fator inevitável de qualquer esforço para solução total do imbróglio do Grande Oriente Médio. Em outras palavras, um naufrágio do Grande Oriente Médio após mais de três décadas de crescimento de sua influência periférica.
Fonte das Notícias> Outro Lado da Notícia.com.br
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