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26 de abril de 2012

América Latina suporta crise europeia, mas não ficou imune


Os mercados financeiros internacionais estão preocupados com um ressurgimento da crise da dívida da Zona do Euro, de olhos fixos na Espanha, que poderia se tornar o quarto país a precisar de resgate financeiro. Enquanto a América Latina até agora suportou relativamente bem os problemas da Europa, não ficou imune. O ritmo do crescimento na região diminuiu, apesar de esperarmos que ele continue mais forte que a média global. Mas em um cenário em que as condições da Europa piorem — ou ocorra mais um choque, como um aumento nos preços do petróleo — poderá haver mais efeitos secundários nas economias, nos preços dos ativos e fluxos financeiros na América Latina.

Depois de uma forte recuperação em 2010 para 6%, causada por um surto de estímulo global, o crescimento na região da América Latina como um todo desacelerou para 4,4% em 2011. A Economist Intelligence Unit prevê uma nova desaceleração para 3,7% em 2012, em um contexto de clara contração na Zona do Euro (esperamos um encolhimento de 0,7%) e um crescimento abaixo do previsto nos EUA (de 2,2%).
O crescimento na maior economia da região, o Brasil, teve um início arrastado este ano, depois de despencar para 2,7% em 2011, contra 7,5% um ano antes. No lado positivo, os exportadores de matérias-primas da América do Sul continuarão se beneficiando da forte demanda chinesa. Vários fatores — como políticas macroeconômicas sólidas, a demanda interna resistente e a recuperação no crescimento da OCDE — vão reforçar o crescimento latino-americano a partir de 2013 (com crescimento médio de 4,2% em 2013-16). No entanto, muitos países da região continuarão vulneráveis a oscilações no sentimento do mercado e às crescentes pressões inflacionárias.
O balanço externo da região se fortaleceu nos últimos anos, o que ajudará a fornecer um amortecedor contra choques externos. A dívida externa está menor em relação ao PIB e as exportações e reservas cambiais estão em níveis recordes. No entanto, o crescimento das contas de importação, alimentado pela demanda interna e por moedas locais fortes, vai superar o crescimento da receita das exportações, resultando em grandes déficits de conta corrente na região — mesmo para os exportadores de matérias-primas. Essa situação é especialmente problemática para a Argentina, para a qual os superávits de conta corrente têm sido um pilar de estabilidade na última década, dado o acesso limitado do governo aos mercados internacionais de capital, o uso de reservas cambiais para pagar suas dívidas externas e a vulnerabilidade à fuga de capitais.
Oscilações de sentimento
Diante da estreita integração das grandes economias latino-americanas nos mercados financeiros globais, as moedas locais e os preços dos ativos foram atingidos por oscilações no sentimento dos investidores. Mas graças a políticas flexíveis esses choques foram relativamente bem absorvidos. Em setembro de 2011 a região sofreu um aumento na aversão ao risco associada aos temores da Europa (com o real brasileiro e o peso mexicano em queda de 16,6% e 12,3%, respectivamente, em relação ao dólar naquele mês). Desde o início de 2012, os mercados de ativos de risco registraram grandes ganhos, enquanto a aversão ao risco diminuía, graças às operações de liquidez do Banco Central Europeu. Quando os efeitos destas se dissiparam, porém, a aversão ao risco retornou.
Além das flutuações no sentimento dos investidores, as autoridades latino-americanas enfrentam outros desafios. Na política monetária e de crédito elas lutam para atingir um equilíbrio entre sustentar a demanda interna (para compensar os mercados de exportação fracos na OCDE) enquanto mantêm a inflação sob controle em meio às pressões decorrentes dos altos preços dos alimentos e do petróleo. A agressiva série de cortes de taxas de juros no Brasil (com a última redução de 75 pontos básicos em 18 de abril situando a taxa básica em 9%, perto do piso recorde de 8,75%), atesta o objetivo do governo de sustentar o crescimento. Isto gerou preocupações sobre o compromisso do BC em alcançar a meta central de inflação (4,5%), e as expectativas inflacionárias para 2012 e 2013 continuaram subindo.
 E se?
Um agravamento da crise da dívida europeia, que prejudicaria as economias soberanas e os bancos europeus (que estão fortemente investidos em dívida soberana e já demonstram índices mais altos de empréstimos inadimplentes em suas outras carteiras), complicaria as coisas. A Economist Intelligence Unit atualmente atribui uma probabilidade moderada (40%) de saída da Grécia da Zona do Euro nos próximos dois anos, e uma probabilidade mais baixa, embora não insignificante, de uma ruptura da zona monetária (que definimos como a saída de vários países, incluindo pelo menos uma das grandes economias).
Mas mesmo sem a dissolução da Zona do Euro uma crise financeira completa a envolver a Espanha ou a Itália, as mais fracas das grandes economias europeias, seria danosa. Os bancos espanhóis, por exemplo, foram grandes compradores de dívidas de governos desde que o Banco Central Europeu lhes deu acesso a empréstimos baratos de três anos, destinados a reforçar a liquidez em toda a Zona do Euro. O governo não pode deixar os bancos falirem, assim como os bancos não podem sobreviver a uma corrida aos títulos do governo. Mesmo que o país possa evitar um resgate, seus bancos poderão precisar dele em breve.
Se os bancos se enfraquecerem, as linhas de crédito para a América Latina (incluindo finanças comerciais, que já foram afetadas pelos temores da Zona do Euro até agora) de entidades europeias e suas subsidiárias na região poderão encolher, como um primeiro passo. O impacto sobre as linhas de crédito internacionais também seria sentido de modo mais amplo, já que um novo “evento” de crédito na Zona do Euro causaria tensões financeiras globais e um aumento da aversão ao risco pelos investidores.
Além das condições de crédito internacionais mais rígidas, outros canais de transmissão incluiriam uma demanda e preços mais baixos para as exportações da América Latina, e haveria um sério impacto sobre as empresas e o sentimento dos consumidores na região. Uma crise da dívida mais profunda também prejudicaria o fluxo de investimento direto estrangeiro (IDE) para a América Latina, pois a Europa é uma fonte importante de IDE para a região. No caso de o crescimento econômico da China desacelerar mais acentuadamente do que se espera (atualmente imaginamos um crescimento do PIB de 8,3% este ano), a demanda e os preços para os exportadores de matérias-primas sul-americanos sofreriam ainda mais.
Bancos europeus recuam
As pressões sobre os bancos europeus desde meados de 2011 já levaram alguns a vender parte de seus ativos na América Latina para reforçar seus balanços. Esses ativos locais foram adquiridos por instituições financeiras latino-americanas, por isso o impacto sobre o crédito regional até agora foi discreto. Uma nova desalavancagem dos bancos europeus levaria a novas vendas de ativos. Onde os compradores agirem, o impacto sobre o crédito na América Latina será limitado. Mas há um risco de perturbações no crédito se as compras não se materializarem em tempo.
Os bancos europeus dos países periféricos seriam atingidos de maneira mais adversa por um choque da dívida europeia. Os bancos espanhóis representam pouco mais de 40% dos interesses estrangeiros totais na América Latina. Os empréstimos para bancos regionais da Grécia, Irlanda, Itália e Portugal são menos importantes. Também pode haver canais indiretos, como bancos não europeus que estão expostos a um evento da dívida europeia e também emprestam para a América Latina. Essas linhas de crédito também poderão sofrer.
Sistemas bancários locais devem resistir
O impacto sobre os sistemas bancários locais seria variável em relação às ações em ativos totais dos bancos europeus afetados em cada mercado. O impacto seria atenuado porque muitos bancos europeus (e outros estrangeiros) que operam na América Latina obtêm a maior parte de seus fundos localmente.
Além disso, indicadores do setor bancário sugerem que a maioria das instituições financeiras latino-americanas seria relativamente resistente a um evento de crédito europeu. Os bancos locais são razoavelmente bem capitalizados e líquidos. O crescimento do crédito, incentivado por políticas expansionistas depois da crise financeira global de 2008-09, hoje está geralmente em desaceleração. Os políticos da maioria dos países poderiam afrouxar a política monetária (incluindo reduzir as exigências de reservas) para ajudar a abrandar as tensões financeiras.
Também haveria certo espaço para políticas fiscais contracíclicas com o fim de apoiar o crescimento econômico durante o período de crise, embora houvesse menos capacidade para políticas de estímulo desta vez, já que nem todo o estímulo anterior foi retirado e os déficits fiscais estruturais estão ligeiramente mais altos hoje. Alguns países (México e Colômbia) têm linhas de crédito de contingência do FMI, e outros (no Caribe e na América Central, por exemplo) provavelmente procurariam o Fundo com sucesso para obter crédito de contingência.
No entanto, a região ainda sofreria, mais ou menos do mesmo modo que após o colapso do Lehman Brothers no final de 2008. Uma recessão europeia mais severa provocada por um agravamento da crise financeira provavelmente seria mais duradoura do que foi a recessão nos Estados Unidos depois do colapso do Lehman, e isto teria efeitos adversos nos fluxos de investimentos e no comércio Europa-América Latina. Nesse caso, a América Latina poderia sofrer uma perda de até 3 pontos percentuais do PIB no primeiro ano, ou cair em uma recessão moderada. Ela se recuperaria gradualmente depois, mas mais lentamente que sua recuperação de 2010 após a crise financeira global de 2008-09.
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