As cabras vermelhas de Kingston apareceram do nada.  Certo dia, as esquisitas cercas brancas que cercam o distrito  amanheceram coloridas com 37 grafites de cabras vermelhas. Elas  apareceram misteriosamente em outubro, como fantasmas de cabras vindas  de outro mundo.
Depois, elas se espalharam. Graças a uma página no Facebook, as  cabras se tornaram o grafite queridinho do momento em lugares distantes  do Vale Hudson - no Brooklyn, Missouri, Michigan e Canadá, e até na  exposição Art Basel, em Miami Beach.
Não está claro o que as cabras vermelhas significam. Aliás,  não está claro se elas significam alguma coisa.  Obs:UND- Sei, vou fingir que acredito. Bééééé.!!!!Mas certamente elas  servem como uma lição objetiva da atual velocidade com que as imagens  podem se espalhar pelo mundo digital e quão rápido elas podem significar  tantas coisas diferentes mesmo que tenham surgido sem significado  algum.
As cabras, feitas a partir de um estêncil de um clip art de domínio  público, surgiram entre os dias 24 e 26 de outubro em 11 cercas  instaladas na região metropolitana de Kingston. As cercas fazem parte de  um controverso projeto de renovação de uma cidade que há décadas tenta  se reinventar aproveitando de sua história, arquitetura e a  originalidade de seus artistas.
A iniciativa mais recente tem sido a renovação do distrito  fortificado, uma área de oito quarteirões onde originalmente se baseava a  comunidade holandesa. O projeto de renovação, chamado Pike Plan, inclui  a reforma de um pavilhão dilapidado e a remoção de árvores para o  plantio.
Debate
Muitos moradores e empreendedores criticam o custo de US$ 1,8 milhão  do projeto. Alguns consideram o novo design opressivo. Assim, quando as  cabras vermelhas apareceram, os cidadãos se dividiram em duas principais  reações. Uns viram arte. Outros viram vandalismo.
“Eu voto pelas cabras”, uma pessoa escreveu no site do jornal local, o  The Daily Freeman.  O comentário foi direcionado aos líderes da cidade.  ”Desistam de sua atitude controladora. Aceitem ajuda externa, façam uma  competição criativa, motivem as pessoas. Isso não é um problema, é uma  oportunidade. Aproveitem! Ocupem Wall Street...com cabras.”
Mas os políticos da cidade não ficaram nada satisfeitos. Alguns  tomaram imediatamente as críticas ao Pike Plan como condenáveis, e a  polícia foi enviada para investigar a aparição dos animais. “Eu gostaria  de convidar as pessoas que se opõem ao Pike Plan a se expor. Grafitar é  errado“, disse Alderman Thomas Hoffay na época. “Isso é zombar da  comunidade dos moradores de Kingston“. Posteriormente ele comparou o  grafite a gangues locais. Para ele, todos são 'farinha do mesmo saco',  cabras, Bloods e Crips (gangues rivais da Califórnia).
Mas para Ed Butler, que gerencia uma loja de discos usados que já foi  uma galeria de arte, a polícia está mais interessada nas cabras do que  nos grafites de gangues na cidade. Outros dizem que a superfície branca  das cercas eram praticamente um convite. “Quando eu vi as cercas  branquinhas meu primeiro pensamento foi: 'Eles bem que poderiam colocar  umas latas de tinta à disposição'”, disse Eric Francis Coppolino,  artista local, jornalista e astrólogo. “Já dava para ter uma ideia do  que ia acontecer.“
Prisão
Quando dois suspeitos foram presos em novembro, eles não estavam  politicamente envolvidos nas críticas ao Pike Plan. Tratava-se de dois  jovens artistas, Geddes Paulsen, 23 anos, tatuador, e Maggie Salesman,  26 anos. Cada um deles foi acusado de dano criminal de terceiro grau, um  delito grave, e contravenção, em razão dos grafites. Somados os tempos  para punição de cada delito, eles podem pegar até quatro anos de cadeia.  No entanto, nenhum deles foi indiciado e penas severas são pouco  prováveis.
Paulsen e Salesmen não quiseram ser entrevistados, mas pessoas  ligadas a eles disseram que as cabras eram apenas arte, e não um  protesto político. Assim que a chama do assunto apagou, muitas pessoas  começaram a gostar das cabras como imagem e como metáfora – não  asseadas, independentes, amigáveis, determinadas, um dos animais de  celeiro que mais se parecem com o homem, com qualidades que pessoas  dóceis se esforçariam para ter.
Na página do Facebook existem links para temas relacionados e também  bem distantes - como agricultura urbana, sustentabilidade, zangões  predadores e pirataria na internet.
    Foto: NYT   
Tatuagem em homenagem à cabra vermelha em Rich Reeve, em Kingston
Raudiel Sanudo, artista de Bakerfield, Califórnia, que  participou de uma exposição na Oo Galeria em Kingston, de propriedade de  Kevin, pai de Paulsen, produziu 500 adesivos de cabras vermelhas. Para  ele, as cabras significam liberdade. “As cabras escalam qualquer lugar,  não importando quão difícil a situação seja para sua sobrevivência. Elas  se adaptam, estão sempre em evolução“.
Em solidariedade, Monica Snell, uma gerente de propriedades de  Wellington, Flórida, baixou as imagens de cabras do Facebook e fez o  estêncil nas portas de sua casa. “Toda cidade tem algo sem noção. Os  políticos dessa cidade são tontos“.
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É claro que em uma cidade com tanto grafite ao redor, com pessoas  tendo de virar a noite para limpá-los a gastos que chegam a cinco mil  dólares por limpeza, muitos não são apreciadores das cabras.
Para Diane Reeder, fundadora de uma ONG que serve sopa a sem-tetos, a  Queen Gallery, quem quer que seja que tenha pintado as cabras cometeu  um ato de vandalismo, algo “ilegal e errado“. Apesar disso, ela admitiu  que as cabras conseguiram unir as pessoas, dizendo algo profundo sem se  dar conta. “Essas pessoas conseguiram criar tanta união através de algo  ilegal, por que não usar esse mesmo tipo de energia para beneficiar  nossa comunidade, com coisas que são legais?”, questionou.
Isso ainda é possível. Uma comissão que considera o que fazer com o  dilema das cercas brancas e cabras pintadas se encontra antes do  julgamento de Paulsen e Salesman.
As cabras tornaram-se tão famosas que existe a possibilidade delas  retornarem às cercas e outros lugares da cidade. Shayne Gallo, prefeito  de Kingston eleito em novembro, disse que as cabras têm sido boas para a  imagem da cidade e que ele está disposto a vê-las voltando às cercas ou  ter outro símbolo que as substituam. Ele diz ainda que considera  adequada a execução de serviços comunitários como punição aos artistas.
O Kingston Times, jornal semanal local, trouxe um editorial pedindo  que a cidade abrace sua cabra interior. “A cabra vermelha é um grande  símbolo: simples, notável, provocativo, fácil de ser lembrado e de ser  associado com uma teimosia desafiadora. Pessoas recebem rios de dinheiro  para criar algo assim e Kingston recebeu isso de graça.”
*Por Peer Applebome, com contribuição de Sari BottonBéééééé!!!!!!!!
Fonte: Último Segundo


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